Rush – No Limite da Emoção (Rush, 2013) de Ron Howard
O filme: em pouco mais de duas horas, acompanhamos um dos maiores duelos da história do automobilismo, entre o austríaco Niki Lauda e o inglês James Hunt, desde as categorias inferiores do automobilismo até ascenderem à Fórmula 1.
O ápice competitivo ocorreu em 1976, quando o austríaco corria pela Ferrari e o inglês pilotava uma McLaren, na disputa pelo título mundial até a última corrida da temporada.
Porque assistir: os personagens, antagônicos por formação natural, são complementares e críveis, como sua própria história. Lauda, o “rato”, vive de forma disciplinada, e, meticulosamente planejava cada movimento, como o treino intensivo, noites bem dormidas e até controle de felicidade.
Hunt, um louco e ‘bon vivant’, conhecido pela ousadia nas pistas e na vida. Boêmio assumido, promovia orgias e festas regadas à álcool e drogas. Em seu macacão, exibia um selo com dizeres “Sexo: o café da manhã dos campeões”. Lauda era mestre em ajustar o carro, Hunt em ir até o limite do possível e impossível na pista.
A condução agressiva de Ron Howard nos transporta até a época mais romântica e perigosa da F1. Acidentes eram comuns e seus pilotos conviviam com a possibilidade da morte em cada treino, em cada corrida. Suas câmeras aplicadas nos carros aditiva a emoção nas ultrapassagens, curvas e olhares trocados pelos pilotos.
A dupla Daniel P. Hanley e Mike Hill, já trabalhou com o diretor em outras produções e venceu o Oscar de melhor edição por Apollo 13 (1995), barbariza na montagem. Impressiona pela unidade que dá ao longa exatamente na forma de mesclar questões esportivas e pessoais.
A fotografia (Anthony Dod Mantley – vencedor do Oscar por Quem Quer Ser um Milionário?, 2008) desbota suas cores para nos levar até os anos 70 com precisão. A trilha sonora de Hans Zimmer acelera e sensibiliza, ao emoldurar as sequências de ação e drama. Além do fantástico trabalho de efeitos e edição de som.
Melhores momentos: há a relação de Lauda com sua esposa, Marlene (Alexandra Maria Lara). Sem dúvida, a força de sua mulher (aliada ao seu adversário nas pistas) motivou o piloto da Ferrari a abreviar seu retorna às pistas após um acidente inacreditável. Sua recuperação é assustadoramente real e o retorno às pistas em Monza é memorável.
Uma reverência para a recriação de Daniel Bruhl na pele de Niki Lauda. Com uma atuação monstruosa, Bruhl agarra o papel da sua vida ao utilizar os artifícios não de uma forma que o ampare, mas que realça o valor de sua interpretação. Há o sotaque alemão (que lhe é familiar) e o inglês rebuscado. Os dentes (postiços), que lhe conferem o visual idêntico ao piloto austríaco, e a incrível maquiagem, crucial para parte da trama. Ponto inclusive, de alta rotação dramática, tratado de forma crua e necessariamente chocante.
Na pele do sedutor James Hunt, Chris Hemsworth (Thor 1 e 2; 2011 e 2014) se sai muito bem como um fanfarrão. Joga com sua vantagem física e seduz de maneira divertida. Destaque também para seus acessos de fúria, como – numa possível liberdade poética – num ataque a um jornalista italiano, ou na bem-humorada saída que tem ao descobria que a esposa (Olivia Wilde, Tron: O Legado, 2010) está com o ator Richard Burton.
Pontos fracos: antes que se lamente o fato de não acompanharmos toda a temporada de 1976, considerada até hoje como uma das mais emocionantes de todos os tempos da categoria, mas convenhamos é impossível ver 16 grandes prêmios compactados num filme de duas hora; E o Blu-ray disponível não contém extras, mas nada que estrague o filme, uma obra-prima.
Na prateleira da sua casa: um dos melhores filmes da temporada 2013, indicado ao Globo de Ouro de melhor filme (drama), a história real é recontada de forma emotiva e crível. No roteiro de Peter Morgan – indicado ao Oscar por A Rainha (2006) e que já trabalhara com o diretor no também nomeado Frost/Nixon (2008) – há as questões do esporte – com a acirrada disputa pelo campeonato mundial e seus bastidores econômicos; E claro, o fator humano, que encorpa a obra com sentimentos genuínos e bem construídos.
Apertem os cintos, encha o tanque com a felicidade recompensadora de acompanhar Rush – No Limite da Emoção. Sem problemas mecânicos, a obra louvável de Ron Howard é pole position como o melhor filme de automobilismo já feito (posto antes ocupado por Grand Prix, 1966). Para os fãs da velocidade, um marco, para os fãs do bom cinema, também. Um filme para se ter na prateleira de casa. Pode subir o tema da vitória.