O cineasta brasileiro, Eduardo de Oliveira Coutinho deixou um importante legado para os fãs de cinema, especialmente no que diz respeito aos documentários. Em um trabalho caracterizado pela sensibilidade e uma capacidade única de ouvir o outro, registrou os mais diversos tipos brasileiros, de camponeses a moradores de grandes metrópoles.
A “Mostra Eduardo Coutinho” estreia no Canal Brasil no próximo dia 16, com o clássico “Cabra Marcado Para Morrer”, de 1984. Antes da exibição do filme, será exibida uma entrevista inédita de Carlos Alberto Mattos, com o o cineasta Zelito Viana, produtor do longa.
Coutinho chegou a cursar a faculdade de Direito, mas não a concluiu. Aos 21 anos, teve sua primeira incursão na sétima arte, aprofundada pelo estudo de direção e montagem na França. Já nos anos 1960, entrou em contato com o Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), onde começou a elaborar uma de suas mais importantes obras: “Cabra Marcado para Morrer” (1984), uma ficção baseada no assassinato de João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa de Sapé (PB), com elenco formado por trabalhadores da região. A produção foi interrompida pelo golpe militar de 1964, quando parte da equipe foi presa sob a acusação de práticas comunistas, e retomada apenas 17 anos depois, já com um formato documental. O objetivo era retratar o filme não concretizado e os personagens reais que seriam os atores do projeto inicial.
Numa homenagem a Eduardo Coutinho, falecido no dia 2 de fevereiro aos 80 anos, o Canal Brasil exibe uma programação especial com alguns de seus títulos mais emblemáticos, todos apresentados por Carlos Alberto Mattos: “Edifício Master” (2002); “Peões” (2004); “O Fim e o Princípio” (2005); “Jogo de Cena” (2007) e “Moscou” (2010), além de “Coutinho. Doc – Apartamento 608” (2009), de Beth Formaggini, que registra o processo de criação de diretor.
Serviço: Mostra Eduardo Coutinho
Estreia: domingo, 16/03, às 19h;
Horário: domingo, às 19h;
“Cabra Marcado para Morrer” (1984)
Domingo, 16/03 – Horário: 19h
Classificação: 12 Anos – Duração: 120 minutos
Sinopse: No início dos anos 1960, o líder da Liga Camponesa de Sapé (PB), João Pedro Teixeira, foi assassinado por ordem de alguns latifundiários e sua história começou a ser contada num título com elenco formado pelos próprios trabalhadores da região. No entanto, as filmagens foram interrompidas pelas forças militares com o golpe de 1964. Dezessete anos depois, em 1981, tendo sido decretada a anistia, o diretor Eduardo Coutinho voltou ao local à procura de Elisabeth Teixeira, viúva de João Pedro, e seus 11 filhos, além de pessoas que haviam atuado na primeira versão do longa. Os reencontros, cheios de lembranças e imagens do passado, trazem novamente à tona algumas questões que, até então, permaneciam adormecidas.
“Edifício Master” (2002)
Domingo, 23/03 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 111 minutos
Sinopse: Dirigida por Eduardo Coutinho, uma equipe passou três semanas pesquisando e conhecendo alguns dos 500 moradores do edifício Master, situado em Copacabana, bairro do Rio de Janeiro. Durante sete dias, filmaram o cotidiano do prédio, formado por 276 apartamentos conjugados, distribuídos em 12 andares. Dialogando com 37 residentes, o cineasta compartilha seus pensamentos, ideias, sonhos, traumas e projetos, apresentando ao espectador depoimentos íntimos e reveladores. Dramas familiares, solidão, pequenas fantasias compensatórias, vaidades mínimas e convivência precária são a matéria-prima do documentário.
“Peões” (2004)
Domingo, 30/03 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 85 minutos
Sinopse: Em 1979 e 1980, os operários da indústria metalúrgica do ABC paulista protagonizaram um movimento grevista que mudou a face do sindicalismo brasileiro, forneceu as bases para a criação do Partido dos Trabalhadores e fez emergir no cenário nacional a figura do líder Luiz Inácio Lula da Silva. Peões é um documentário sobre a história de 21 pessoas que tomaram parte nos acontecimentos daquele período, mas permaneceram em relativo anonimato. O diretor Eduardo Coutinho mergulha na busca por aqueles metalúrgicos atuantes nas maiores greves do século 20, investigando quais são suas lembranças desses momentos e como se relacionavam uns com os outros.
“O Fim e o Princípio” (2005)
Domingo, 06/04 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 110 minutos
Sinopse: O registro traça um perfil dos sertanejos da cidadezinha de São João do Rio do Peixe, no interior da Paraíba. O cineasta se preocupa apenas em mostrar pequenas histórias de gente que tem muito a contar. Após se engajar numa série de filmes urbanos, Coutinho mergulha no universo dos camponeses para apresentar seu cotidiano. A equipe se aventurou em um documentário sem pesquisa prévia, no qual a única matéria-prima é o inesperado. Para ajudar nessa tarefa, o diretor recebeu a colaboração de Rosilene Batista, a Rosa, uma professora nativa. Com apenas uma folha de cartolina, ela montou um verdadeiro mapa para que os forasteiros encontrassem os lares dos principais personagens da localidade.
“Jogo de Cena” (2007)
Domingo: 13/04 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 106 minutos
Sinopse: A tentativa de demarcar fronteiras entre realidade e ficção não é bem uma novidade na sétima arte. A questão ganha contornos poéticos na obra de Eduardo Coutinho. O diretor lança a pergunta ao público, impelido a pensar até que ponto os documentários podem e devem ser considerados registros fiéis. Disposto a brincar com esse dilema, o cineasta decidiu colocar um anúncio no jornal procurando mulheres que topassem revelar suas experiências na frente de uma câmera. Registrados no Teatro Glauce Rocha (RJ), os depoimentos foram vistos três meses depois por atrizes convidadas a encenar os relatos como se fossem delas próprias.
“Moscou” (2010)
Domingo: 20/04 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 79 minutos
Sinopse: No longa, o cineasta convidou o grupo teatral Galpão, de Belo Horizonte (MG), para encenar a peça As Três Irmãs, de Anton Tchekhov. Pedindo que os integrantes escolhessem um diretor com o qual nunca tivessem trabalhado, deu-lhes três arbitrárias semanas para preparar o espetáculo e registrou tudo, incluindo fragmentos de workshops e improvisações. A obra, no entanto, não é a simples documentação de bastidores, nem uma montagem realizada exclusivamente para ser retratada. É, nesse caso, algo que só existe enquanto Coutinho se ocupa em filmá-la, além de uma investigação sobre a relação entre o real e a arte, a partir da exploração da importância da memória na vida do indivíduo e da inquietação da alma humana.
“Coutinho.Doc – Apartamento 608” (2009)
Domingo: 27/04 – Horário: 19h
Classificação: Livre – Duração: 51 minutos
Sinopse: O média registra o processo de criação do documentarista Eduardo Coutinho. A cineasta Beth Formaggini convida o assinante para os bastidores do longa Edifício Master (2002), revelando desde a fase da pesquisa até o fim das filmagens. Desanimado com os personagens, Coutinho chegou a cogitar não rodar o título ao receber os primeiros resultados da observação. Com o cigarro a postos e um ar fatigado, o diretor questionava o interesse que os depoimentos poderiam suscitar na plateia. Convencido pela equipe, ele decidiu levar o projeto adiante.