Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008) de Kathryn Bigelow
O filme: no Iraque ocupado pelos americanos do final dos anos 90. William James (Jeremy Renner) é um exímio desarmador de bombas (na sua contagem já foram 873 desarmadas), que parece não ter mais nada a perder e a guerra é uma droga. Vicia.
Seu contraponto é o segundo em comando, Sargento Sanborn (Anthony Mackie), cauteloso e racional em ação e um soldado raso com medo da morte.
E afinal, apesar de todas as cascas, camadas, embalagens, posicionamentos e posturas, quem é que não tem?
Porque assistir: Renner, aliada a composição de um personagem que guarda suas angústias numa caixa, brilha (e muito) desde a primeira cena, quando insurge durante sua operação de estreia na nova equipe. É a bomba relógio do sentimento humano X ação militar.
Mackie como seu contraponto está bem seguro. Pontas de luxo de Guy Perce, o primeiro desarmador de bombas, Ralph Fiennes, um mercenário do deserto, e David Morse, um coronel impressionado com o histórico de bombas desarmadas por Renner.
Melhores momentos: a estética de sol estourado e deserto infernal aparecem sem dó, ajudando a compor um clima hostil, inseguro e de desconforto.
Sua brutalidade reflete no tom semi-documental. Usa o recurso de câmera (tremida) na mão e edição (bem) cortada e contada em missões/dias que restam para o fim do serviço militar.
Primorosamente técnico, tem na sua direção viril uma das maiores qualidades, e corou Bigelow com a honra de ser a primeira mulher a ganhar o Oscar.
Pontos fracos: Evangeline Lilly não tem muito que fazer como a esposa do protagonista.
Na prateleira da sua casa: não há ufanismo americano, nem é a favor da guerra. É sobre desarmar bombas e viver com o risco a cada momento. Mas não espere explosões a cada cena, ou firulas típicas de filmes de ação. A composição aqui é maior. É mais humano que acelerado.
Usa a tensão para apresentar uma visão particular e diferente da guerra. E mesmo num local ocupado, e dito pacificado, a morte pode estar em cada esquina. Enterrada no meio do nada, dentro de carros, homens e até crianças bomba.
Filme vencedor de seis Oscar: melhor filme, direção, roteiro original, edição, efeitos de som e edição de som. Concorreu também aos principais prêmios no Globo de Ouro – melhor filme (drama), direção e roteiro.