Jean-Claude Van Damme. Como eu me esforçava para acertar na pronúncia do belga. Mestre das artes marciais, o lutador que virou ator-fetiche em filmes de ação de baixo orçamento foi um dos astros mais badalados no final dos anos 80, início dos 90. Ele surgiu como um cometa, exatamente no boom das locadoras (em VHS). Se tornou tão ou mais famoso que os ícones Arnold Scharzennegger e Sylvester Stallone, mas a sua vantagem eram suas habilidades corporais. Impossível não lembrar de sua abertura de pernas e seu chute rodado. Um bailarino das artes maciais.
Vilão na estreia
Seu primeiro filme a chegar ao Brasil foi Retroceder Nunca, Render-se Jamais (1986), no qual interpreta o vilão, um russo que luta de forma desleal. Mas sua carreira só deslanchou mesmo com O Grande Dragão Branco (1988), que conferi no saudoso e inexistente Cine Diogo, no centrão.
A fita fez tanto sucesso, que batizaram outros três filmes com as palavras Dragão e Branco por sua causa: Cyborg, O Dragão do Futuro (1989) – problema, ele não é o Cyborg do título; Kickboxer – O Desafio do Dragão (1989); e Leão Branco – O Lutador Sem Lei (1990), no qual faz um lutador de rua, mas o título original é Coração de Leão.
Durante os anos 90, obteve sucessivas bilheterias expressivas no Brasil, com Garantia de Morte (1990) – esse eu vi no inesquecível Cine São Luiz; Duplo Impacto (1991); Soldado Universal (1992); Vencer ou Morrer (1993); O Alvo (1993); Street Fighter (1994) e Timecop (1994) – também conferi no cinema. Morte Súbita (1995), inclusive, teve sua estreia mundial no Brasil.
O belga se fixou nos EUA por um bom tempo e, na função de estrela de algumas produções em grandes estúdios americanos, como Risco Máximo (1996), Golpe Fulminante (1998) e O Alvo (1993), nos quais bancou a vinda de diretores orientais aos EUA, abrindo as portas do cinema de Hollywood para John Woo, Ringo Lam e Hark Tsui.
Um fato curioso. Van Damme já interpretou papéis duplos em cinco diferentes filmes: Duplo Impacto (1991) – os irmãos Alex e Chad Wagner; Soldado Universal (1992) – primeiro o soldado americano Luc Devereaux e depois o ‘universal soldier’ GR44; Risco Máximo (1996) – Alain Moreau e Mikhail Suverov; Replicante (2001) – Edward Garrotte e um replicante; e A Irmandade (2001) – Rudy Cafmeyer e Charles Le Vaillant.
Sem sucesso, dirigiu também dois filmes (Desafio Mortal, 1996; e The Eagle Path, 2010 – inédito no Brasil), além de escrever outros sete. Mas, o que era uma promessa de grande estrela dos filmes de ação, caiu na vala comum de filmes produzidos diretamente para o mercado de home video. Em 2012 voltou aos cinemas como o vilão do sucesso, Os Mercenários 2. Ah, neste 18 de outubro o grande dragão belga completa 53 anos de muita porrada.
Vamos agora para a lista dos melhores e piores filmes de Jean-Claude Van Damme, sempre no papel de protagonista e com filmes feitos para o cinema:
The Best
5. Timecop – O Guardião do Tempo (Timecop, 1994) de Peter Hyams. Ficção baseada numa história em quadrinhos para adultos, a fita é o maior sucesso comercial de Van Damme nos EUA, com com pouco mais de U$ 44 milhões, e um total de U$ 100 milhões ao redor do mundo.
4. JCVD (2008) de Mabruk El Mechri. Dramédia de ação de tom auto biográfico, mas satírico, que mescla fatos da vida real de Van Damme, como sua ascensão e queda em Hollywood, seus problemas com as drogas e seus sucessivos fracassos comerciais. Uma grande atuação do belga numa fita surpreendente. Vencedor do prêmio de melhor ator pela Associação de Críticos de Cinema de Toronto.
3. Morte Súbita (Sudden Death, 1995) de Peter Hyams. Uma corrida contra o tempo, com muita ação e suspense. Uma espécie de Duro de Matar dentro de um ginásio de hóquei no gelo, lotado, durante a final da Copa Stanley. Van Damme é um segurança que luta contra os terroristas, que exigem milhões de dólares senão ameaçam explodir o ginásio e todo mundo junto, incluindo o vice-presidente dos EUA.
2. O Grande Dragão Branco (Bloodsport, 1988) de Newt Arnold. Baseado numa história real, o qual o militar americano Frank Dux foge do serviço para lutar uma competição secreta, o Kumite. É uma grande diversão, com seus clichês e frases feitas, mas ainda é um filme que funciona e muito, pelo clima brega. A luta final com Chong Li (Bolo Yeung) é incrível.
1. O Alvo (Hard Target, 1993) de John Woo. Um puta filme de ação. O (então) astro belga foi o responsável por trazer do oriente o espoletado diretor chinês, John Woo, em estreia americana. Cenas em câmera lenta – para realçar a ação, uma trama simples, mas de resultado ainda espetacular. Ah, e repare no estilo do cabeludo Van Damme e uma surreal cena com uma cobra. Integra a lista de filmes bacanas, esquecidos e surpreendentes de 1993.
Trash
5. Todas as continuações de Soldado Universal: O Retorno (1999); Regeneração (2009); Juízo Final (2012). Na primeira tentativa, Van Damme voltou ao cinema, mas com um grande fracasso e uma fita terrível, que não engana ninguém. O segundo e o terceiro caíram na vala do mercado de ‘home video’, com resultados pífios, para ser bonzinho.
4. Cyborg – O Dragão do Futuro (Cyborg, 1989) de Albert Pyun. Ficção de baixíssimo orçamento que trova sobre futuro da humanidade e vingança. Van Damme é o Dragão do Futuro que tem de proteger a Cyborg do título. Trash é apelido.
3. Golpe Fulminante (Knock Off, 1998) de Tsui Hark. É uma fita de ação, mas está mais para a comédia e pra piorar tem Rob Scheinder como parceiro de Van Damme. Uma trama de falsificação de jeans, investigação da CIA e muita, muita vergonha alheia.
2. A Colônia (Double Team, 1997) de Tsui Hark. O agente internacional Van Damme, que ganha a ajuda do negociante de armas Dennis Rodman, procura acertar suas contas com um terrorista (Mickey Rourke), que está na tal ‘colônia’, uma espécie de prisão informal para agentes fracassados. Mas fracasso completo mesmo é o filme.
1. Street Fighter – A Última Batalha (Street Fighter, 1994) d Stevem E. de Souza. Uma compilação de absurdos. A fita é o ápice de tudo que deu erado na carreira de Van Damme. Bancado como uma grande adaptação de um dos games mais vendidos (e queridos) do mundo, Street Fighter foi também a despedida de Raul Julia, como o vilão M. Bison. O belga é um dos líderes da resistência, no papel do Coronel Guile. Bobo, terrível e embaraçoso a todos os envolvidos. Merecido fracasso.