Baseado no clássico longa de terror que completa 50 anos este ano, novo filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros
Hoje em dia a fórmula de se fazer e refazer filmes já virou arte comum para o Cinema. E quando a Blumhouse se uniu a Universal para comprar os direitos de um dos maiores (senão o maior) clássico da história do horror, a ideia até que não parecia ruim. Trazer uma nova história com a chancela de “O Exorcista” para as novas gerações, e assim formar novos públicos que terão a oportunidade de presenciar a volta da marca clássica na tela grande. O original estreou em 1973, há exatos 50 anos, e naquele ano foi o número um das bilheterias nos EUA (US$ 193 milhões), e atualmente acumula mais de US$ 233 milhões com suas reexibições, provando ser um filme atemporal, assustador, icônico até. Tem mais, recebeu lastro da crítica também, com 10 indicações ao Oscar – incluindo melhor filme e direção (William Friedkin) – vencendo as estatuetas de melhor roteiro original (William Peter Blatty) e som; além de sete nomeações ao Globo de Ouro, levando os prêmios de melhor filme (drama), direção, roteiro e atroz coadjuvante (Linda Blair).
Sim, mesmo com tanto peso do original, algum sucesso de bilheteria de suas continuações, mas com muito pouco a ser celebrado como resultado artístico, repito, a ideia de mexer novamente com essa marca era boa, mas tinha de cair nas mãos de quem entende do riscado, o que infelizmente não aconteceu ao escolherem David Gordon Green. O diretor que conseguiu em 2018 revitalizar a franquia “Halloween” com um embate entre Michael Myers e Laure Strode, mas afundou a mesma franquia com duas sequências esquecíveis (“Halloween Kills – O Terror Continua”, 2021; e principalmente o horrendo “Halloween Ends’, 2022). Pior, anunciaram que esse novo “O Exorcista – O Devoto” (The Exorcist: Beliver, 2023) é a primeira parte de um nova trilogia do mesmo diretor.
Vamos ao novo filme então…
Primeiro da trilogia, O Exorcista – O Devoto conta a história de Victor Fielding (Leslie Odom Jr., “Uma Noite em Miami…”, 2020), que logo no início tem de escolher entre a vida da esposa ou o nascimento de sua filha, após um terremoto durante uma viagem para Porto Rico. Me pergunto, como uma pessoa prestes a ter um bebê consegue autorização para viajar para outro país? Seguimos para 13 anos depois, e descobrimos que sua escolha foi ter a filha, Angela (Lidya Jewett).
Após a aula, ela e sua amiga Katherine (Olivia O´Neill) buscam na floresta uma tentativa de contato com o espírito de sua mãe, mas as duas acabam desaparecidas por três dias. Quando são resgatadas, estão aparentemente possuídas por uma entidade demoníaca. E é aqui que entra Chris MacNeil (Ellen Burstyn, indicada ao Oscar de melhor atriz no filme original), uma mãe que lutou pela alma de sua filha, Regan (Linda Blair) no clássico de 1973.
Eu queria muito ter gostado. Adoraria ter morrido de medo. Seria maravilhoso dormir de luz acesa depois da sessão de O Exorcista: O Devoto, mas, contradizendo seu título original (Believer ou aquele que crê), parece que nem o próprio filme acredita nele. O saldo final desse retorno da franquia “O Exorcista” – 50 anos depois do clássico, inigualável – é quase nada. Um filme de exorcismo, sem exorcismo. Um filme com o título de O Exorcista, sem um Exorcista para dar fim às duas possessões. Me causou risos quando o suposto padre exorcista diz, “nesse caso a igreja recomenda tratamento psiquiátrico para as meninas.” É isso mesmo.
Daí ao que o roteiro recorre? À narrativa do sincretismo religioso, colocando numa mesma sala tudo de uma forma apressada, com diálogos expositivos, e usando de forma rasa todo tipo de manifestação religiosa. Em vão, pois ao que parece, ninguém ali abraça o que está acontecendo, ou mesmo se devota a ponto de crer que as coisas vão funcionar mediante de cada crença. Na verdade, somente querem solucionar cada um o seu problema.
E assim visivelmente temos uma história cheia de partes soltas, vários filmes em um, numa clara tentativa de acertar alguma coisa. No fim, não provoca medo, tensão, angústia nem algo parecido, mas certamente me gerou desespero pelo desperdício de ver um “Exorcista” tão pequeno, misturado com frustração e até raiva. E numa produção desse tamanho, o que dizer que nem mesmo os jump scares (aqueles sustos com uso de imagens, sombras e na maioria das vezes com algum barulho) funcionam?
Tanto se falou em respeito à obra original, em um novo filme que funcionasse como uma continuação direta do original, principalmente ao trazer de volta Ellen Burstyn (coitada gente, tem tão pouco a fazer aqui) no papel da mãe de Reagan (Linda Blair), a menina possuída lá no clássico de 1973, mas eu não entendo o motivo de ter tão poucas referências do filme original em cena. Sim, a garotinha Katherine é quase uma cópia visual de Reagan, mas o que podemos perceber é um vômito aqui (mas não é verde), um pescoço torcido acolá, o uso da trilha ao final do filme… Mas cadê o padre que vai lutar pelo exorcismo das garotas? Porque não usaram aquela nuvem fria – instalada no quarto de Reagan – para ajudar no clima da sequência final contra o demônio? E me incomoda muito a inexistência também daquela sensação de medo à espreita, de clima esquisito ou que nada parece estar certo, como se o mal estivesse rondando os personagens… Pazuzu teve de se contentar com um relance nada memorável. Assim como todo “O Exorcista – O Devoto”. Vade retro!
O Exorcista – O Devoto é dirigido por David Gordon Green, a partir de um roteiro de Peter Sattler (“Camp X-Ray”) e David Gordon Green, baseado em uma história de Scott Teems (“Halloween Kills”), Danny McBride (trilogia “Halloween”) e David Gordon Green, com base nos personagens criados por William Peter Blatty.
Franquia O Exorcista, por ordem de lançamento:
- O Exorcista (The Exorcist, 1973) de William Friedkin
- Exorcista II: O Herege (Exorcist II: The Heretic, 1977) de John Boorman
- O Exorcista III (The Exorcist III, 1990) de William Peter Blatty [Relançado em 2016, O Exorcista III: Legião]
- O Exorcista: O Início (Exorcist: The Beginning, 2004) de Renny Harlin
- O Exorcista: Domínio (Dominion: Prequel to the Exorcist, 2005) de Paul Schrader
- Série de TV: O Exorcista (2016 a 2018) de Jeremy Slater
- O Exorcista: O Devoto (The Exorcist: Believer) de David Gordon Green
- Próximo filme da nova trilogia: The Exorcist – Deceiver (2025)