A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise, 2023) de Lee Cronin
Segundo o dicionário, possessão demoníaca é, de acordo com muitos sistemas de crença, o controle de um indivíduo por um ser maligno ou sobrenatural. Sim, toda a trama desse novo capítulo da franquia de Evil Dead (A Morte do Demônio), parte de uma, e depois descamba para várias possessões. Mas após a trilogia original de Sam Raimi (A Morte do Demônio, 1981; A Morte do Demônio 2: Uma Noite Alucinante, 1987; e Uma Noite Alucinante 3, 1992), que tinha uma pegada dividida entre um filme de terror (parte 1), uma comédia de horror (parte 2), e uma comédia aventuresca (parte 3), veio uma ótima refilmagem (A Morte do Demônio, 2013), que abraça muito o filme de possessão para causar um medo genuíno, num resultado que vai muito além do digno.
Com uma base de fãs de várias épocas, que vem desde a popularização da trilogia original em VHS, da época das locadoras (entre os anos 80/90 até os anos 2000, com DVD), quanto os mais novos, fisgados pelo em remake que acaba de completar 10 anos, Evil Dead também já teve seu público na TV, com a Série “Ash Vs. Evil Dead” (2015/2018; Fox). Mas o show tem de continuar, não é? Com a marca forte nas mãos, os produtores investiram numa nova história que traz não só a chancela de Evil Dead, mas também com direito às bençãos dos seus criadores (Sam Raimi e seu protagonista, Bruce Campbell).
Tendo como elo de ligação dos outros filmes, o Livro dos Mortos (Necronomicon), A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise, 2023) de Lee Cronin, é um grande acerto. E não poupa ninguém de um grande (e divertido) banho de sangue – literal – em seus 97 minutos. A ação agora desloca-se da floresta para a cidade, mas não espere muita diferença não. De uma cabana no meio do nada, para um prédio no limiar do abandono, estamos presos àquele espaço físico, enquanto seus personagens são tragados para um espiral de mortes violentas. Acompanhamos a história de dentro de uma família cheia de problemas. Uma mãe tatuadora (Alyssa Sutherland) que cria sozinha seus três filhos, um casal de adolescentes e uma pequena menina, que recebem a visita inesperada de sua tia (Lily Sullivan). Mas, após se deparar com uma possessão demoníaca, o que elas não esperavam é que seus problemas mundanos fossem na verdade os mais simples de se solucionar.
As citações à franquia Evil Dead aparecem bem. Da motosserra, tão essencial no segundo “Noite Alucinante”, das citações “Join Us” (junte-se a nós) e “Dead by Dawn” (mortos ao amanhecer), passando pela câmera em perspectiva de ataque (tanto no prólogo, com o drone, como depois nos corredores do prédio), as cabeças falantes, os cabos que faz as vezes de cipós agarrando a possuída, e claro, o Livro dos Mortos, que é o nosso ponto de partida. Há espaço também para uma homenagem a O Iluminado (sangue no elevador), além da história apontar para novos rumos bem possíveis de um próximo capítulo.
Escrito e dirigido por Lee Cronin, que veio do horror independente de “O Bosque Maldito” (2019), e do aplaudido capítulo “Trem Fantasma” do episódico “Minutos Depois da Meia-Noite” (2016), A Morte do Demônio: A Ascensão não poupa nada, nem ninguém da sua carnificina. Portanto, não espere um grande desenvolvimento de personagens em suas tentativas de sobrevivência e fuga. Aparentemente foram feitos para morrer, não sem antes sofrer um bocado, com grande uma variedade de violência, horror e medo, incluindo aqui litros de sangue e outras gosmas. E mesmo em meio à um atropelo de vísceras, escalpo, facadas, tesouradas, tiros, decapitações e outras investidas dilacerantes, há umas boas sacadas em produzir medo natural, em duas sequências nas quais a ameaça aparece atrás do que ocorre em cena: como o corpo com o clássico lençol tipo fantasma, e a mamãe possuída saindo de dentro do fosse do teto.
Produzido por apenas US$ 12 milhões, esse novo “Morte do Demônio” chegou a ser cogitado como estreia direto para as plataformas de streaming… Agora resta ao público, tanto aos fãs dos filmes de horror em geral, quanto da franquia, demonstrar que o estúdio estava errado, e Sam Raimi, que acredita no potencial da sua produção, estava certo. Eu estou com ele, e vocês aí, estão preparados para A Ascensão?