Jurassic World – Domínio (Jurassic World: Dominion, 2022) de Colin Trevorrow
Escrever uma crítica acerca do mais novo filme da franquia Parque dos Dinossauros não vai ser algo fácil para mim. Sempre que me remeto à memória do primeiro filme de 1992, dirigido por Steven Spielberg, me vejo na sala de cinema iniciando meu amor pelo cinema. As imagens, a fantasia, a música de John Williams, o suspense criado pelo diretor. Tudo isso apresentou a arte do cinema para um menino de 8 anos de idade. Neste primeiro filme, estavam lá Sam Neil, como o Dr. Alan Grant, Laura Dern, como a Dra. Ellen Sattler e Jeff Goldblum, como o teórico do Caos, Ian Malcom. Esse filme tem um grande apelo emocional neste que vos escreve. Ele consegue apresentar muito do cinema fantástico e de entretenimento que um filme poderia apresentar a uma criança ao nível de marcar uma época. Mas 30 anos depois, uma nova sequência de filmes dessa franquia resgatada consegue abalar minhas estruturas emocionais e afetivas com esta obra. Tudo, absolutamente tudo nele quase me fez apagar da memória as boas lembranças que tinha do primeiro.
Já não é mais surpresa a aposta dos estúdios do bairro de Los Angeles. Em tempos de falta de criatividade, e uma enorme busca pelas bilheterias milionárias, estão começando a comprometer a história dos bons filmes clássicos do entretenimento fantástico de Hollywood. Assim como outras franquias, Parque dos Dinossauros sofre agora com as consequências da boa releitura do primeiro filme da nova série baseada na mente criativa de Steven Spielberg que acabou por apelar e introduzir forçosamente os antigos personagens em uma história de dois núcleos que não conversam e, por vontade do roteirista e dos produtores, se encontram sem praticamente nenhuma lógica. Jurassic World: Domínio tropeça nas próprias pernas com duas histórias – uma com potencial incrível para um bom filme e outra tão rasa e cheia de furos quanto um queijo suíço – que não possuem nenhum laço em comum a não ser que se tratam de personagens da franquia.
Após os Dinossauros escaparem da Isla Nublar, o mundo dos humanos tenta conviver com os animais. Em alguns aspectos, dinossauros convivem bem com os humanos. Já em outros, eles são muitos nocivos. Os governos do mundo apostam suas fichas ao contratar a BioSyn, corporação de pesquisas genéticas que prometem manter os animais e controlar sua imposição na natureza. Porém, a Dra. Sattler descobre que uma praga de gafanhotos gigantes da era mesozoica geneticamente modificados que atacam plantações de todos os fazendeiros menos as comandadas pela gigantesca corporação. A partir disso, ela busca a ajuda do antigo amigo, o Dr. Allan Grant para ajudá-la a pesquisar a origem de tudo isso e a comprovar a participação do laboratório. Este núcleo tem um plot extremamente interessante, mas o filme começa a se perder quando entra o núcleo raso das personagens da nova era da franquia.
Owen Grady (Chris Pratt) e Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) estão juntos em suas atividades tentando proteger os dinossauros que são explorados por produtores criminosos. Eles estão escondendo Maise Lockwood, um clone que carrega um importante material genético desejado pelo laboratório BioSyn. No meio dessa vida, Maise é sequestrada e levada por um grupo de criminosos que buscam entregar ela para a corporação e receber uma enorme quantia de dinheiro.
Esses dois núcleos já dariam dois filmes. Mas coloca-los em apenas um e, ainda, com o desafio de fazê-los se encontrarem e interagirem não é algo simples. O diretor Colin Trevorrow precisava se virar para convencer a naturalidade dos fatos que o roteiro tentava forçar. Porém, esse desafio dado a ele seria – e foi – impossível de cumprir.
O que o diretor nos entrega é um filme que aposta nos exageros, no excesso de ação e perseguição, nos alívios cômicos frágeis e em uma relação familiar de animais que simulam mais a vida dos humanos do que o mundo animal. A boa proposta do núcleo dos antigos é apagada pela fragilidade e futilidade do núcleo dos novatos. Enquanto um assunto sério que, com calma, poderia explorar bem e dialogar com o mundo contemporâneo se forma, o outro parece uma montanha russa infantilizada, muito próximo aos parques de diversão da Disney – por muito tempo, pensei em estar assistindo a animações de aventura medíocre do estúdio.
O filme não é um desastre. É visível que houve um trabalho e uma tentativa de fazê-lo funcionar. Mas a sensação que perpassa é a de imposição de produtores. Talvez, esse dedo apareça no próprio roteiro e na estrutura narrativa, os fundamentos da obra. Por isso, o filme que tem em sua genética assuntos sérios é amofinado por uma futilidade rococó do núcleo dos novatos, o que apaga uma boa história que poderia ser contada e o fantasia em uma noção de que ele “não se leva tão a sério”. Não acredito nisso. Trevorrow é um diretor muito talentoso que tem estima por seu trabalho e buscou em muitas cenas respeitar o legado de Spielberg, mas impor sua visão, mesmo que talhada.
Por isso, infelizmente, Jurassic World: Domínio se mostra mais do mesmo. Mais do mesmo da indústria hollywoodiana que pensa muito mais na sua fábrica de enlatados do que em uma obra que alma, espirito e magia. Com certeza, este filme praticamente apaga o bom primeiro filme da nova séria, mas, pior, abala o clássico Parque dos Dinossauros. Uma pena.