Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (2022) de David Yates
Eu sou um “Potterhead”. A franquia Harry Potter, criada por J.K Rowling (apesar da autora ter caído no meu conceito devido seus comentários transfóbicos), teve grande influência na minha formação como leitor. O primeiro longa de Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016), me animou muito, pois expandiu o “Wizarding World” (Mundo da Magia), mesmo que estejamos no passado de HP.
Contudo, sua continuação Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, me decepcionou tanto, que considero que tive o mesmo sentimento dos fãs de Star Wars, assistindo A Ameaça Fantasma. Mas como todo bom crítico, fui com o coração e mente aberta para o terceiro longa da franquia. E em Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, temos um filme mais leve como no primeiro da franquia, e com temas políticos que conversam com os dias de hoje, retcons que irão decepcionar ainda mais os fãs e poucos segredos.
O professor Alvo Dumbledore (Jude Law) sabe que o poderoso mago das trevas Gerardo Grindelwald (Mads Mikkelsen) está se movimentando para assumir o controle do mundo mágico. Incapaz de detê-lo sozinho, ele pede ao magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) para liderar uma intrépida equipe de bruxos, bruxas e um corajoso padeiro trouxa em uma missão perigosa, em que eles encontram velhos e novos animais fantásticos e entram em conflito com a crescente legião de seguidores de Grindelwald. Mas com tantas ameaças, quanto tempo poderá Dumbledore permanecer à margem do embate?
O diretor David Yates, que dirigiu o “Wizarding World” desde Harry Potter e a Ordem de Fênix (2007), conhece esse universo como ninguém, entretanto está à mercê do roteiro de J.K Rowling e Steve Kloves. Quanto ao sentimento de estar de volta naquele mundo mágico, o leitor pode ficar tranquilo, mas inúmeras mudanças que são retcons ou “retroactive continuity” (“continuidade retroativa”, quando o autor muda fatos passados, para introduzir novos elementos, às vezes não fazendo sentido com universo já criado), presentes no segundo longa, persistem e devem irritar mais os fãs.
A primeira mudança que se não tem explicação, é a troca de atores Mads Mikkelsen por Johnny Depp para interpretar Grindelwald. E realmente pouca importa pela interpretação precisa de Mikkelsen, que faz o papel de homem que quer destruir o mundo dos trouxas (não mágicos), através da aprovação dos próprios bruxos.
Essa trama política é o elemento mais forte do longa e dialoga com os dias atuais, com governos autoritários apoiados por pessoas sem sentimento crítico, escolhendo como o próprio Dumbledore diz: “O fácil, pelo que é certo”. Porém, até nesse quesito, o filme comete um pequeno deslize. Já que a escolha de quem vai comandar o novo mundo (mais um retcon), não é escolhida pelo voto, mas justamente pelo “MacGuffin” da película (não irei comentar o que é, por motivos de spoilers). Prejudicando inclusive a participação da personagem brasileira Vicenta Santos (Maria Fernanda Cândido), que tem apenas uma fala no filme inteiro.
Mas é na insistência de mudanças que J.K Rowling em seu universo que era tão coeso, que irá irritar aos fãs que ainda esperam respostas igualmente em harmonia com dito no passado. Como a explicação de Creedence (Erza Miller) ser da família Dumbledore, ou explicar completamente como ele se tornou um, já que era impossível devido o que autora já tinha estabelecido no sétimo livro, a não se se tivéssemos uma grande mudança de rota (retcon), que é exatamente o que acontece. Por sinal, o longa tem a ousadia de referenciar a uma fala importante de Snape na saga Harry Potter. O que era para ser comovente, soa covarde.
Outras mudanças com grande peso ou não, traz o perigo de mexer com o passado: Se existia antes, por que nunca foi mostrado no futuro? Se Newt Scamander salvou o mundo tantas vezes, onde está ele nos eventos da ascensão de Voldemort, que era um perigo ainda maior? Essa e outras perguntas são do tipo: quando mais você faz, pior fica.
Fora o paralelo políticos com os dias atuais, o elenco é excelente e em alguns momentos de leveza lembram o primeiro longa dessa saga. O que deverá agradar o público infantojuvenil. Também admitir logo no começo que Dumbledore e Grindelwald era de fato um casal, reforça um pouco a coragem do filme.
Entretanto, assim como os Crimes de Grindelwald, os tais Segredos de Dumbledore são iguais a nada. Se não fosse o carisma de Jude Law, com a sagacidade da narrativa em nos divertir em momentos chaves, principalmente o terceiro ato com reviravoltas que envolve a política, o longa seria mais um novo desastre. Apesar de não impedir soluções fáceis para outros conflitos que se resolvem muito rápido, como por exemplo as batalhas.
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é mais divertido e interessante que seu antecessor, mas demostra que a franquia não tem nenhum tipo de norte. Porém, o pior de tudo, é ver a autora que me fez gostar de ler, perder a mão do seu próprio universo, assim como nas suas demonstrações transfóbicas, que me fizeram me afastar dela. É deprimente!
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