Tempo (Old, 2021) de M. Nigth Shyamalan
Se existe um Cineasta que causa contradição (ame-o ou odeio-o) nas obras que cria, esse é M. Nigth Shyamalan, autor de filmes como O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), Sinais (2002). A Vila (2004), A Dama na Água (2006), Fim dos Tempos (2008), A Visita (2015) e Fragmentado (2016). Em seus filmes, o diretor quase sempre divide a opinião tanto de público, como de críticos. O que seria normal, se quase sempre (como citado), ele mexesse com os extremos (goste muito ou deteste). Confesso, que quando vou assistir um novo longa do realizador, vou com um certo “pé-atrás” (apesar de como crítico de cinema não poder me dar esse luxo). Pois apesar de sempre amar as ideias e premissas de cada nova película, no final (principalmente), eu costumo sair frustrado com resultados, salvo alguns trabalhos.
Mas aqui em seu novo longa “Tempo” (“Old”, no original. Na minha opinião a versão nacional resume melhor sobre o que é o filme). Eu saí extremamente satisfeito com a obra. Não, não é melhor que O Sexto Sentido (1999), que continua sua melhor realização. Porém estamos diante dos melhores feitos de sua extensa filmografia.
O roteiro é baseado na história em quadrinhos “Castelo de Areia” de Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters, e conta a história de algumas famílias, com enfoque em primeiro lugar na Família Cappa: O pai Guy (Gael García Bernal), a mãe Prisca (Vicky Krieps) e nos filhos Trent (Nolan River) e Maddox (Alexa Swinton), que tem 6 e 11 anos respectivamente. Que foram convidados para se hospedar em um resort de luxo, onde são super bem tratados. As crianças fazem amizade com um garoto chamado Idlib (Kailen Jude) que mora no resort e é peça fundamental no futuro.
Um grupo com várias famílias se reúnem e partem em uma expedição para parte restrita da região. Quem os leva é um personagem vivido pelo próprio Shyamalan, fazendo mais um ponta em seus filmes, mas aqui com uma importância maior. Comento mais adiante, uma linda praia. Mas aqui os problemas começam. O local faz com que todos envelheçam muito rápido e não os deixa saírem de área. A partir daí, o desespero começa e uma corrida contra o “tempo” (trocadilho infame) para tentar escapar e sobreviver inicia.
Sem dúvida essa é a direção com mais uso de técnicas cinematográficas que o diretor já usou em um longa: Planos abertos, fechados e aéreos; Plano sequência criativos; inúmeros movimentos de câmera desde travellings, câmera na mão ora rodeando os personagens e causando instabilidade. Sem dúvida o cineasta não poupa esforços em criar um clima primeiramente agradável, para o mais completo desconforto e terror. A fotografia de Mike Gioulakis, utiliza cores vibrantes e tropicais, mas a noite somente um ponto de luz, geralmente vindo de uma fogueira.
O Roteiro (adaptado pelo diretor, que também assina a produção), tem alguns furos, mas bem menores se tratando de longas anteriores. E que é compensado pela experiência de trazer algumas explicações básicas para alguns fatos pequenos. Cada personagem vai reagindo de uma maneira diferente a praia e seu efeito e o arco de cada um são desenvolvidos. Uns melhores outros não. Lembra o personagem de Shyamalan? Então, descobrimos que além de levá-los, ele filma a orla de longe. O terror vem literalmente de suas mãos.
ALERTA DE SPOILER
Nos próximos dois parágrafos vou citar algumas condições que vão afetar os personagens e comentar cenas chaves. Eu não citarei todos, nem seus nomes e ocupações, para evitar o máximo de spoilers. E claro, não citarei sobre as eventuais mortes e quem morre.
Um personagem vai perdendo a visão; outro sofre com um tumor; um vai perdendo a memória e fica violento; outro tem problema nos ossos; uma engravida; outro vai perdendo a audição; as crianças crescem e envelhecem exponencialmente. Aqui, temos personagens que tentam usar a sensatez, mas as situações criadas vão destruindo suas mentes.
O diretor tem um grande problema com cenas que utilizam da violência. Como o tempo passa rápido, a cicatrização de cortes e feridas é quase instantânea. Isso causa de forma arbitrária o momento o cineasta resolve mostrar ou omitir a cólera de alguns personagens. Mas duas cenas chamam mais atenção: a da gravidez e da retirada do tumor. As escolhas das técnicas são corretas e potencializam os momentos. Demais fatos que acontecem a personagem certa vezes são óbvios e outros compreensíveis. O realizador remete a alguns gêneros de terror para algumas mortes.
Mas é finalmente no terceiro ato e desfecho (sempre eles), que podem novamente dividir o público. Porém dessa vez, apesar que possa parecer forçado, o roteiro é coeso com novas motivações que surgem e com as pistas foram plantas no longa sem percebemos. Temos uma conclusão satisfatória, apesar de alguns personagens terem sofrido mudanças rápidas demais. A somente um furo na trama que realmente me incomoda, essa não dá para desculpar.
Tempo é no fim das contas um acerto do cineasta. Ele quase me fez esquecer as lembranças ruins que tive com alguns filmes do diretor. Acontecimento contínuo que através de uma boa edição causa uma das melhores experiências fílmicas de sua cinematografia.