Malcolm e Marie (2021) de Sam Livenson
Malcolm e Marie, nova produção original da Netflix, escrita e dirigida por Sam Livenson (criador da série Euphoria), pode ser considerado pedante e maçante por boa parte do público e crítica. Mas nessas 1h40min de filme, eu fiquei fascinado pelo texto de Livenson, que sim, derrapa em autoindulgência em certos momentos. Mas em nenhum momento o cineasta perde o controle da narrativa e seu ritmo.
Sinopse é bem simples. Após voltarem da noite de estreia do primeiro filme de Malcolm (John David Washington), um fato acenderá um conflito em Marie (Zendaya), que irá fazer que os dois discutam o relacionamento entre eles por toda a noite. Partindo dessa premissa, o filme se apega em duas vertentes: 1) a DR do casal; e 2) uma discussão metalinguística sobre o filme que estamos assistindo, e que Malcolm dirigiu.
O longa tem enfoque no texto e atuações, e assim Livenson consegue com maestria conciliar os dois. Nenhum momento considero um filme teatral, mesmo com muitos monólogos. O motivo? Sua mise-en-scène, que lida bem com espaços da casa e consegue, com planos criativos, criar um ritmo interessante entre movimentos de câmera e sua montagem, que passam quase que impartíveis durante o longa. Fora que a escolha de fotografia em preto e branco, além de dar um charme a obra, marca a dicotomia do conflito do casal.
Mas como dito anteriormente, é na atuação e texto que são os alicerces do longa. Malcolm é cineasta amante feroz da sétima arte, seu filme é grande forma de querer se expressar sua visão de mundo e fica irritado quando o cinema é visto como apenas algo técnico, mas seu principal problema e não enxergar o seu relacionamento de uma maneira madura, e aqui, que Marie entra. Apesar de mais nova, a protagonista é o grande mote da discussão, pois enxerga o relacionamento sem arestas e que está todo tempo tentando abrir os olhos de Malcolm.
A DR entre os dois é como uma luta de boxe. E no final de cada round verdades são ditas que machucam mais que socos físicos. Note que até em momentos de respiro narrativo, o diretor sempre deixa o conflito no ar, sem que os dois descansem por nenhum momento sequer. A cada progressão da história ficamos sentindo na pele um amor genuíno entre os dois envolto em muito conflito.
Mas outro elemento chave é metalinguagem do filme de Malcolm com filme que estamos vendo. Imani (filme de Malcolm dentro do filme) fala muito sobre o relacionamento entre os dois e também sobre o cinema entre sim. Nessa hora, Livenson usa Malcolm como alter-ego para dizer o que acha sobre cinema e a crítica cinematográfica (ao qual sobre a crítica não poderia concordar mais com sua visão) e que pode parecer pedante, mas que funciona com os tons do filme.
Talvez o grande problema do filme é não saber equilibrar a hora de quando falar certo tema. Não é orgânica a forma que o relacionamento e as falas sobre cinema se entrelaçam no filme. Mas acho que que irá irritar mais o público é grande quantidade de monólogos que pode deixar o filme enfadonho.
Malcolm e Marie é excelente exercícios sobre a discussão de racionamento, vai parecer maçante para maioria, mas sem duvida Livenson cria uma narrativa coesa e que conversa bem sobre os falta de comunicabilidade vivida entre casais.