Por mais que sejam vistos com certo olhar desconfiado por alguns cinéfilos, é inegável a força dos filmes de comédia brasileira com o grande público. Os longas lotam cinemas e são campeões de bilheteria: as franquias “Minha Mãe é uma Peça”, “Se Eu fosse Você”, “De Pernas Para o Ar”, “Os Parças”, “Meu Passado me Condena” e “Até que a Sorte nos Separe”, além do HalderVerse nas comédias do sertão de “Cine Holliúdy 1 e 2” e “O Shaolin do Sertão” são todos bons exemplares desse sucesso.
Saindo do cinema tradicional e olhando para os populares serviços de streaming, vemos que estes estão investindo cada vez mais em produções originais. E no momento de pandemia que nos encontramos, o público tem buscado mais filmes e séries como entretenimento. Grandes players da indústria, como o Amazon Prime Video, investem em grande quantidade de conteúdo original, incluindo nossa comédia brasileira, como forma de se destacar da grande concorrência.
Comédia não é meu estilo favorito para filmes, porém, me desafiei a assistir três filmes brasileiros do gênero, e em um estilo de “diário de bordo”, escrevo e expresso minhas experiências com cada um. Vamos lá!
Dia 1: Carlinhos e Carlão (2020) de Pedro Amorim
Sinopse: Carlão (Luiz Lobianco) trabalha em uma concessionária, acha que entende tudo sobre mecânica e futebol e está sempre no bar com os amigos, em meio a conversas machistas e piadas homofóbicas. A compra de um armário, vendido por Evaristo (Luiz Miranda), muda sua rotina e o transforma. A partir daí, surgem dois personagens: de dia o machão Carlão, à noite o simpático, talentoso e divertido Carlinhos.
Carlinhos e Carlão é o filme com o coração no lugar certo apesar dos exageros. O longa discute e condena o machismo e a homofobia em diversas camadas. Seja no seio da família onde o pai de Carlos o influenciou a ser machista, seja no preconceito vivido dia-a-dia pela comunidade LGBTQ+.
Mas é numa abordagem exagerada, tanto para mostrar o machismo quanto as facetas da comunidade LGBTQ+, é que filme se torna uma grande caricatura apelando para estereótipos que ele mesmo quer combater. Apesar do carisma de Lobianco, seu personagem principal se mostra um gay super afeminado e geralmente as piadas surgem sempre desse tema.
O filme consegue ser divertido e ao mesmo tempo que é uma grande crítica ao nosso país, que carrega raízes tão preconceituosas.
Dia 2: Os Espetaculares (2020) de André Pellenz
Sinopse: Ed Lima (Paulo Mathias Jr.) é um comediante egocêntrico que decide participar de um concurso de trio cômico para escapar da prisão, voltar aos palcos e impressionar seu filho Théo (DJ Amorin). Para tal se junta a um lunático (Rafael Portugal), uma nerd (Luísa Pérrisé) e um sonhador (Victor Meyniel). Será que eles ganharão o prêmio? Vai depender do esforço cada um acreditar em si.
Os Espetaculares é um filme apático e meio sem graça, porém seu trunfo é justamente na sua história: o processo do comediante ao criar uma piada, os percalços vividos nos clubes de comédia e ao lidar com público. Se o longa tivesse assumido mais uma veia dramática, talvez tivesse mais êxito em mostrar como é difícil ser engraçado.
Fora o roteiro que apesar de sem graça é bem escrito. A química dos protagonistas é ótima e seus melhores momentos conseguem tirar pequenas risadas.
Dia 3: No Gogó do Paulinho (2020) de Roberto Santucci
Sinopse: Paulinho Gogó (Maurício Manfrini) narra suas histórias em um banco de praça enquanto aguarda a chegada da sua amada Nega Juju (Cacau Protásio).
No Gogó do Paulinho é sem dúvida os mais problemático dos três longas. Em uma mistura de “Praça é Nossa” com “Forest Gump”, Paulinho vai contando suas histórias que são uma série de esquetes sem graça e com piadas que se repetem a exaustão. Talvez o público que acompanhe o trabalho de Manfrini possa gostar do longa, porém mesmo com ajuda de outros humoristas, o longa fica engasgado no nosso gogó.
Acabou e tô vivo. Que venham as próximas maratonas.