“Los Lobos” (Los Lobos, México, 2019) de Samuel Kishi
O sonho dos pequenos Max e Leo é de ir para a Disney. Fato comum para crianças que são, com 8 e 5 anos, respectivamente. Mas o que lhes faltam são recursos. Também fato comum para a maior parte da população do mundo, que mergulha numa crise econômica. Mas a situação é ainda mais difícil do que parece. Há ainda a crise humanitária a qual passamos, com a falta de empatia para com as questões migratórias, e as desigualdades sociais, cada vez maiores em países desenvolvidos.
Max e Leo são mexicanos, e acabaram de imigrar, com a sua mãe, aos Estados Unidos em busca da realização dos seus sonhos. A mãe, do sonho econômico (ou americano), de ganhar em dólar, e dar uma vida melhor para si e aos seus filhos. As crianças só querem ir para a Disney. Mas enquanto isso, diariamente ficam em casa esperando a mãe retornar do trabalho. Tomando de conta um do outro, contando e recontando histórias, e construido um universo imaginário com seus desenhos. Sem esquecer de escutar regras da casa, e a luta de aprender o inglês, através de um gravador.
A trama é simples, mas nem por isso menor. Pelo contrário, nos conquista com a sua tenra simplicidade. Sua narrativa abraça uma mensagem universal, cheia de sentimentos, e que equilibra empatia e complexidade a cada pequena aventura vivida. Assim como os pequenos, ficamos imaginando os passos da mãe, dia após dia. Até que somos, assim como as crianças, obrigados a acompanhar um exaustivo dia na vida da trabalhadora. Dividia entre dois empregos, descobrimos (ainda mais) que a vida é dura, e que por trás de uma extenuante dedicação com foco no melhor para a família, mamãe é muito mais forte do que imaginamos.
A dramaticidade da história absorve também a busca por alternativas para crises eventuais, mas sempre contemporâneas,e em diálogo com o contexto histórico atual ao lidar com migrações, direitos humanos, isolamento social e com as aspirações incutidas pelo capitalismo sob a ótica da infância. Sem esquecer que há ainda o afago na memória e na imaginação como formas de sobrevivência e resistência humana.
Isso é Los Lobos, que se encontra entre o caminho da esperança e um sentimento contemporâneo de esperança. Belamente atuado pelos pequenos irmãos também da vida real, Maximiliano Nájar Márquez e Leonardo Nájar Márquez, além do apoio maternal de Martha Reyes Arias, tem relevância nas discussões suscitadas, recheio emocional e um toque de fantasia que nos deixa – ao mesmo tempo – com os olhos cheio d´agua e um sorriso no rosto ao final da exibição. E nem precisamos da Disney para isso.
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Los Lobos foi visto durante o 9º Olhar de Cinema de Curitiba (2020), ao qual fiz parte do júri Abraccine, que o elegeu como o melhor filme (júri da crítica).