A Coreia do Sul surpreendeu o mundo com o extraordinário desempenho de Parasita, dirigido por Bong Joon-Ho, no Oscar 2020: foram seis estatuetas e, pela primeira vez, um filme não falado em inglês foi o vencedor na categoria de Melhor Filme. A mesma obra que já havia ganho a Palma de Ouro em Cannes 2019, e já é um dos melhores filmes da década.
O resultado, porém, não surpreendeu quem acompanha o histórico de desenvolvimento do cinema sul-coreano: “Os prêmios desta edição do Oscar são resultado de uma política pública orientada para o fortalecimento do mercado audiovisual da Coreia do Sul ao longo de 70 anos”, diz Gisele Jordão, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM SP. “Hoje, os sul-coreanos representam o quinto maior mercado mundial de audiovisual.”
Entre as razões para o sucesso do setor cinematográfico na Coreia do Sul, segundo Gisele, estão a isenção de impostos para o setor e um longo período de reserva de mercado após a Guerra da Coreia (1950-53), que permitiu ao cinema sul-coreano se fortalecer, ser o mais consumido no próprio país e por fim se tornar um produto de exportação.
De acordo com o Banco Mundial, os investimentos no setor da economia da cultura na Coreia do Sul – que contempla o setor audiovisual – foram de 26,7 bilhões de dólares em 2014, contra 3,1 bilhões de dólares investidos pelo Brasil no mesmo ano. Em 2018, o Brasil investiu 2,6% do PIB em economia criativa, segundo a Secretaria da Cultura. “Os benefícios do investimento em economia da cultura são amplos. Entre os diretos, temos um mercado de trabalho mais aquecido, visibilidade para a cadeia de negócios culturais e conteúdos que apresentam o país para o mundo. Entre os indiretos, estão a abertura de novos mercados econômicos e a geração de curiosidade, tangível no turismo a locações de filmes famosos”, diz Gisele Jordão.
Além dos benefícios econômicos, o mercado audiovisual representa um importante instrumento de política internacional. “O cinema é a ferramenta mais poderosa de diplomacia cultural. Os países da Ásia estão seguindo a mesma estratégia de sucesso dos Estados Unidos com a Hollywood do século 20”, afirma Fausto Godoy, professor de Relações Internacionais da ESPM SP. Em sua carreira como diplomata, Godoy serviu ao Ministério das Relações Exteriores em 11 países da Ásia. “Apesar de ainda termos um caminho a percorrer no cinema, nossas telenovelas têm enorme sucesso na Ásia. Devemos pensar em mais estratégias para replicar esse sucesso no setor audiovisual como um todo”, diz ele.