Primeiro longa-metragem solo de Marina Meliande, “MORMAÇO”, estreia dia 02 de maio, após ser exibido em dezenas de Festivais pelo mundo. O longa teve estreia mundial na competição oficial do Festival Internacional de Cinema de Roterdã e foi exibido pela primeira vez no Brasil na mostra competitiva do Festival de Gramado. Também passou pela mostra competitiva Novos Rumos, do Festival do Rio, onde recebeu menção honrosa do júri, e esteve na 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O longa traz Ana (Marina Provenzzano, de O Grande Circo Místico) como protagonista, no papel da jovem defensora pública carioca que se divide entre seu trabalho na Vila Autódromo, comunidade prestes a ser despejada por conta dos Jogos Olímpicos do Rio, e uma doença misteriosa. O filme é dirigido por Marina Meliande e escrito por ela com a colaboração de Felipe Bragança. A dupla já trabalhou junta em outros projetos e assina a direção de longas como “A fuga da Mulher Gorila”, que estreou no Festival de Locarno 2009, e “A Alegria”, que esteve na Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes 2010. Além de Marina Provenzzano, o elenco conta com o Pedro Gracindo, neto de Paulo Gracindo e filho de Gracindo Jr., Diego de Abreu, Analu Prestes, Igor Angelkorte e Sandra Souza.
A ideia de “MORMAÇO” surgiu quando o Rio de Janeiro foi anunciado como a cidade que iria sediar as Olimpíadas de 2016. Esse anúncio trouxe um misto de euforia e incômodo do que essa decisão significava, “a notícia sobre as olimpíadas começou a ser divulgada e comemorada na imprensa como algo que traria inúmeros benefícios para o Rio, a cidade logo em seguida começou a se transformar rapidamente e a se preparar para sediar o evento. E eu comecei a me incomodar muito sobre como as decisões políticas em relação aos espaços públicos estavam sendo tomadas, e consequentemente a relação com as comunidades. Eu não estava sendo tocada diretamente por isso, mas eu sou carioca, vivo no Rio, tenho minha vida ligada à cidade. Quis escrever sobre isso, fazer um filme sobre uma personagem que se sente pouco à vontade no espaço onde viveu a vida toda, que está se sentindo expulsa desse lugar e tivesse que se readaptar a esse espaço em transformação. Assim, de alguma maneira, o corpo dessa personagem se transformasse junto com a cidade, como uma forma de resistência, de doença ou um sinal a essa mudança.”, explica a diretora e roteirista.
Durante o trabalho de pesquisa para “MORMAÇO” Marina Meliande tomou conhecimento da Vila Autódromo, uma comunidade localizada em frente a onde seria construído o Parque Olímpico, cercada pela Barra da Tijuca e que despertava interesse comerciais da especulação imobiliária do Rio de Janeiro. Por conta disso, a Vila Autódromo foi incluída como moeda de troca na negociação do prefeito com as construtoras responsáveis pelo projeto do Parque Olímpico, para que ficassem com esse terreno. Porém a Vila Autódromo tinha dono e os moradores eram uma comunidade legalizada, que não podia ser removida de uma hora para outra. Imediatamente Marina incorporou o local à sua história: “quando eu cheguei lá parecia um cenário pós-apocalíptico, tinham algumas casas completamente destruídas e outras ainda em pé, uma associação de moradores muito forte, organizada e consciente do que eles podiam fazer para lutar pelos seus direitos de moradia e eu fiquei fascinada pelo encontro com essas pessoas. Tinham lideranças femininas muito fortes, uma delas é a Sandra, que virou uma das atrizes do filme fazendo a personagem Domingas”, comenta Marina.
Para a diretora, “a Vila Autódromo era a síntese de tudo o que estávamos passando naquela época: ruína e resistência, com mulheres fortes e corajosas na liderança de uma determinação superimportante”. A Vila Autódromo, que é a única comunidade da história das Olimpíadas que conseguiu resistir aos processos de remoções, pois algumas famílias permanecem morando no bairro nos dias de hoje, passou a ter um espaço de narrativa muito importante no roteiro de “MORMAÇO”.
Além de toda a questão política, o filme usa traços do cinema fantástico e de filmes de horror para abordar esse momento de extrema opressão, mas também de resistência, que o país vive desde então. O filme fala sobre corpos que resistem a sistemas opressivos e intolerantes e como os corpos se transformam de forma poética.
“MORMAÇO” é uma produção da Duas Mariolas e Enquadramento Produções e foi desenvolvido com o suporte da Résidence da Cinefondation, promovida pelo Festival de Cannes, e do Hubert Bals Fund, promovido pelo Festival de Roterdã. Além disso, o projeto foi o vencedor do Brasil CineMundi, da Mostra CineBH, e foi realizado com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual, na linha dedicada a longas-metragens com propostas de linguagem inovadora e relevância artística. Com estreia no dia 02 de Maio de 2019, será distribuído pela Vitrine Filmes.
“MORMAÇO” | Direção: Marina Meliande | Roteiro: Felipe Bragança e Marina Meliande | Elenco: Marina Provenzzano, Pedro Gracindo, Diego de Abreu, Analu Prestes, Igor Angelkorte, Sandra Souza, Jéssica Barbosa | Sinopse: Rio de Janeiro, 2016. O verão mais quente da história. A cidade está se preparando para os Jogos Olímpicos. Ana, uma defensora pública de 32 anos, trabalha na defesa de uma comunidade ameaçada de remoção pelas obras do Parque Olímpico. Enquanto isso, misteriosas manchas roxas, similares a fungos, aparecem em seu corpo. Coisas estranhas começam a acontecer na cidade e no corpo de Ana. A temperatura sobe, criando uma atmosfera úmida e sufocante. O mormaço acumula, abrindo caminho para uma forte chuva.