Roubar Rodin/Robar a Rodin (2017) de Cristóbal Valenzuela
“Uma obra de arte estará presente e estará ausente ao mesmo tempo.” (Luis Emilio Onfray Fabres).
Essa foi uma proposta crítica, ou como o autor diz, “um projeto artístico” não apenas para justificar o roubo do “El torso de Adele” (de Rodin) como uma ação de arte, mas também que demonstra a vulnerabilidade do Museu Nacional de Belas Artes de Santiago, Chile. Entendeu alguma coisa? Então, vamos lá…
Em 2005, o Museu Nacional de Belas Artes, alcança um feito inédito: receberá uma exposição com peças do artista francês Auguste Rodin. Corta para Junho do mesmo ano. A exposição era um sucesso. Mas algo aconteceu durante uma noite. Na manhã do dia 17, os guardas chilenos descobriram que uma escultura de Rodin havia sido roubada da exposição principal.
No dia seguinte, um jovem estudante a devolve, informando que a encontrou no gramado de uma parque da cidade. Mas você acreditaria em alguém que diz ter encontrado uma obra de arte, mas não sabia que se tratava de algo tão valioso?
Detalhe, ele era estudante de arte. Pois bem, a polícia também não acreditou.
Diante do interrogatório, Luis Emilio Onfray Fabres, assumiu o crime. “Roubei, mas foi algo de impulso. Fui ao banheiro, via peça, a toquei, o alarme não soou, decidi a colocar na mochila e sai”, disse em depoimento o jovem de 20 anos.
Preso, foi a julgamento. Aí entra a tal “Uma obra de arte estará presente e estará ausente ao mesmo tempo.” E isso foi o que seu advogado defendeu perante a justiça. Acredite.
A peça “Torso de Adele”, do escultor francês Auguste Rodin e avaliada à epoca como algo entre $ 500 e 700 mil Euros, ficou 24 horas desaparecida. Até que o ladrão viu que a história havia ganhado proporções internacionais, e tentou “achar” a peça no parque da cidade, e devolvê-la como herói.
Partindo do episódio principal (o roubo), que é reconstruído através de relatos de advogados, artistas, críticos de arte, e até mesmo do “criminoso” confesso, o documentário é delicioso.
O então aluno do terceiro ano da carreira de Belas Artes, Luis Emilio Onfray Fabres fala bastante do ocorrido no documentoário com um sorriso no rosto. E parece não demonstrar nenhum tipo de arrependimento. Mas também tenta sempre justificar suas ações se assumido como artista, que teve uma infância e adolescência problemática, longe do pai…
Roubar Rodin é um divertidissimo e curioso doc de Cristóbal Valenzuela, e também levanta uma questão ao lembrar não apenas de outras obras artísticas chilenas do passado, mas como as “performances” de Fabres: afinal, há limites para a arte?
Roubar Rodin/Robar a Rodin (2018) de Cristóbal Valenzuela | Com: Luis Emilio Onfray | O filme participa da Mostra Competitiva Latino-Americana do 20º BAFICI.
*O crítico viajou à convite do Buenos Aires International Festival of Independent Cinema – BAFICI, e compõe o Júri FIPRESCI na Mostra Competitiva Latino-Americana.