Em seu primeiro longa-metragem filmado fora dos Estados Unidos, o diretor e roteirista, Paul Thomas Anderson examina o mundo dos costureiros de Londres no pós-guerra em Trama Fantasma (2017). Na obra, ele volta a trabalhar com Daniel Day-Lewis (com quem já havia trabalhado em Sangue Negro, 2007) na história do romance gótico tumultuado e elegante que não se parece com nada que o cineasta tão eclético já tenha feito.
Filme com seis indicações ao Oscar 2018, é sobre o costureiro fictício Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e revela uma história de amor entre mestre criador e sua musa, que o solteirão convicto descobre durante um fim de semana no interior da Inglaterra. A película também é estrelado por Vicky Krieps no papel de Alma, e Lesley Manville no papel de Cyril, irmã formidável de Woodcock. É o oitavo longa- metragem de Paul Thomas Anderson, o segundo estrelado por Daniel Day Lewis.
Os trabalhos mais recentes do diretor, inclui vídeos musicais de HAIM e Radiohead e o documentário musical Junun (2015), tinha pouco interesse em moda ou história da costura, até que começou a pensar em roupas depois que terminou a produção de seu longa-metragem de 2014, Vício Inerente. Alguns meses depois, enquanto se dirigia para um evento com Jonny Greenwood, seu colaborador frequente e assunto de Junun, PTA recebeu um elogio do músico pelo corte do seu terno.
PTA diz: “Ele disse alguma coisa sarcástica tipo ‘Olha só, você parece o Beau Brummell.’ Tive que pesquisar o nome. Quis saber quem era.” Na medida em que crescia seu interesse por moda, Paul Thomas Anderson descobriu a vida e o trabalho do costureiro espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972), cujas coleções tinham fama internacional por suas memoráveis rendas, corte inovador e evidente elegância. O diretor e roteirista mergulhou na biografia de Mary Blume, The Master of Us All: Cristóbal Balenciaga, His Oficinas, His World, e ficou fascinado com a vida monástica do estilista e sua abordagem intensa à costura, que combinava perfeitamente com a Era de Ouro de Hollywood e o New Look de Paris, voltado para Christian Dior e sua reinvenção da silhueta feminina.
Com seus traços belos, angulares, Cristóbal Balenciaga também fez Paul Thomas Anderson lembrar-se de Daniel Day-Lewis. Os dois já haviam trabalhado juntos com muito sucesso em Sangue Negro (2007), e o diretor ficou ansioso para voltar a trabalhar com o astro em outro projeto.
“O Daniel é muito bonito, mas fizemos um filme juntos em que ele era bem feio em termos de personagem e cenário (Sangue Negro)”, diz o diretor. “Comecei pensando em como eu podia torná-lo mais bonito, pois ele era muito atento à moda em seu dia-a-dia e sabe-se que ele adorava roupas, se arrumar e fazer trabalhos manuais.” Além de ser um grande astro de Hollywood, Daniel Day-Lewis também é sapateiro e refletiu perfeitamente o interesse crescente do cineasta por Cristóbal Balenciaga.
PTA também se encantou com o glamour da metade do século e o romance gótico — especificamente Rebecca: A Mulher Inesquecível (1940) de Hitchcock. Ele já pensava em usar um triângulo em seu próximo longa-metragem, com um homem, uma mulher e a irmã dele. “Eu estava procurando pelo pretexto perfeito para uma história como esta”, diz o diretor. “Eu queria um cenário que fosse de alta classe, com personagens imersos em luxos. Um mundo em que pudesse acontecer um romance gótico.”
Daniel Day-Lewis ficou intrigado com o projeto, então PTA e seu astro viraram estudantes assíduos da haute couture, e aprenderam tudo que puderam sobre Cristóbal Balenciaga e seus contemporâneos, inclusive o estilista britânico Charles James, que se tornou um mestre do corte depois que se mudou para Chicago, aos 19 anos de idade, e Dior, que revolucionou o vestuário feminino na metade do século. Eles estudaram o temperamento artístico de figuras contemporâneas como Alexander McQueen, que, no início da carreira, teceu mensagens desafiantes e lascivas em roupas que fez para clientes importantes, inclusive o Príncipe Charles.
“Depois da guerra, havia dois mundos paralelos de costura, um em Paris, que dominava — o New Look — mas havia muitos outros estilistas que trabalhavam em Londres”, diz Daniel Day-Lewis. “Pareceu ser melhor que o nosso trabalho refletisse a história da Inglaterra e dos tecidos que vieram das Ilhas Britânicas, que são extraordinários. Os alfaiates e costureiros ainda estão fazendo essas roupas, e elas são lindas. Em toda temporada, quando os tecidos chegam, eles olham os tecidos, sentem, cheiram e desenham com eles. Havia algo de fascinante para nós na ideia da Inglaterra se recuperando da guerra com políticas de austeridade.”
A dupla estreitou o foco e estudou alfaiataria inglesa clássica, especialmente as casas de costura de Londres que empregaram artesãos desconhecidos como Digby Morton, Peter Russell, Hardy Amies, John Cavenagh e Michael Donéllan nos anos que se seguiram após a Segunda Guerra Mundial. Enquanto Paris era o epicentro da haute couture na metade do século, Londres era sua prima mais discreta, com a tradição da Savile Row de alfaiatarias sob medida. Em contraste com as grandes casas como Dior, que empregavam centenas de operários, as casas de Londres eram empresas familiares pequenas, frequentemente administradas por irmãos e irmãs.
Criadores como Amies e Morton começaram como aprendizes e foram promovidos até serem estilistas chefe que, no auge do poder, vestiram realeza, aristocratas, socialites e celebridades do teatro e do cinema. “No mundo que eu estava estudando, muitos estilistas chefes tinham irmãs administravam os negócios”, diz PTA. “Isso inclui Amies nas primeiras décadas do século passado e Valentino e Versace nos dias atuais.”
Embora seja um californiano da gema cujo trabalho tornou-se sinônimo do Vale San Fernando em Los Angeles, PTA também tinha muito interesse em fazer um filme cuja história se passasse em Londres — sua primeira produção fora da América. De sua parte, Day-Lewis estava ansioso para interpretar outro inglês, pois tinha construído sua carreira em obras britânicas clássicas como Minha Adorável Lavanderia (1985) e Meu Pé Esquerdo (1989), pelo qual ganhou seu primeiro Oscar de melhor ator, interpretando o escritor e artista Christy Brown.
Nos últimos anos, o ator interpretou personagens americanos, como o ganancioso magnata do petróleo Daniel Plainview em Sangue Negro (2007, também de Paul Thomas Anderson) e o 16o presidente dos Estados Unidos em Lincoln (de Steven Spielberg, 2012), pelos quais que ganhou dois prêmios Oscar de Melhor Ator.
Durante sua estadia prolongada em Londres, em que frequentemente trocavam livros sobre moda e arte entre visitas feitas ao Museu Victoria and Albert, onde estudaram vestidos antigos de estilistas como Cristóbal Balenciaga e Charles James, Paul Thomas Anderson e Daniel Day-Lewis conceberam o costureiro fictício conhecido como Reynolds Woodcock, protagonista de Trama Fantasma (2017).
Trama Fantasma (2017) marca a despedida de Daniel Day-Lewis do cinema, que anunciou aposentadoria após as filmagens. O filme classudo de Paul Thomas Anderson concorre à seis Oscar em 2018 (Melhor Filme, Diretor, Ator, Atiz Coadjuvante, Figurino, Desenho de Produção e Trilha Sonora. E a junção de talentos do ator e do diretor (produtor e roteirista), já está marcada – desde já – para sempre na história do cinema.
Paul Thomas Anderson: Prêmios e indicações
Nascido em 26 de junho de 1970, na Califórnia (EUA), PTA acumula 68 prêmios internacionais e detém outras 182 nomeações, incluindo 8 ao Oscar. Vamos listar seus principais prêmios e indicações agora.
8 indicações ao Oscar: Melhor Filme e Direção, por Trama Fantasma (2017); Melhor Roteiro Adaptado, por Vício Inerente (2014); Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado, por Sangue Negro (2007); Melhor Roteiro Original por Magnólia (1999) e Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997).
Festival de Berlim: Leão de Ouro (Melhor Filme) e prêmio especial do júri, por Magnólia (1999); Indicado ao Leão de Ouro e vencedor do Urso de Prata (Melhor Diretor), por Sangue Negro (2007).
Festival de Cannes: Câmera de Ouro (filme estreante), por Jogada de Risco (1996); Indicado à Palma de Ouro e vencedor do prêmio de Melhor Diretor, por Embriagado de Amor (2002);
Festival de Veneza: Indicado ao Leão de Ouro (Melhor Filme) por O Mestre (2012), venceu o Leão de Prata (Melhor Diretor) e o Fispresci (prêmio da imprensa internacional.
National Board of Review: Melhor Roteiro Original por Trama Fantasma (2017) e Roteiro Adaptado por Vício Inerente (2014).
5 indicações ao BAFTA: Melhor Roteiro Original por O Mestre (2012); Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado, por Sangue Negro (2007); Melhor roteiro original por Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997).
Daniel Day-Lewis: Prêmios e indicações
Daniel Michael Blake Day-Lewis nasceu em Londres, Inglaterra, em 29 de abril de 1957. O ator, que acaba de declarar que Trama Fantasma (2017) será seu último filme no cinema, possui 91 indicações e venceu 143 prêmios internacionais, incluindo 3 Oscar de Melhor Ator. Agora vamos listar suas principais indicações e prêmios.
Oscar: Melhor Ator por Lincoln (2012), Sangue Negro (2007) e Meu Pé Esquerdo (1989). Indicado ao prêmio de Melhor Ator por Trama Fantasma (2017), Gangues de Nova York (2002) e Em Nome do Pai (1993).
Globo de Ouro: Melhor Ator (drama) por Lincoln (2012) e Sangue Negro (2007); Indicação de Melhor Ator (drama) por Meu Pé Esquerdo (1989), Em Nome do Pai (1993), O Lutador (1997), Gangues de Nova York (2002), Sangue Negro (2007) e Trama Fantasma (2017). Indicado ao prêmio de Melhor Ator (comédia ou musical), por Nine (2009).
BAFTA: venceu o prêmio de Melhor Ator por Lincoln (2012), Sangue Negro (2007), Gangues de Nova York (2002) e Meu Pé Esquerdo (1989). Indicado (Melhor Ator) por Trama Fantasma (2017), Em Nome do Pai (1993) e O Último dos Moicanos (1992).
National Board of Review: Melhor Ator Coadjuvante por Uma Janela para o Amor e Minha Adorável Lavanderia, ambos de 1985.
Screen Actors Guild Awards (SAG): Melhor Ator por Lincoln (2012), Sangue Negro (2007) e Gangues de Nova York (2002). Indicado como melhor elenco por Nine (2009) e Lincoln (2012).