Por Daniel Bydlowski*
Depois de Cloverfield – Monstro (2008) e Rua Cloverfield, 10 (2016), agora chega The Cloverfield Paradox (Idem, 2018), tentando dar continuação à franquia produzida por J.J. Abrams. Os dois primeiros filmes ganharam atenção por criar suspense e mistério em relação a monstros e alienígenas que poderiam, em enredos de menos sucesso, parecer banais ou bobos.
Porém, estes dois primeiros longas conseguem dar seriedade à história por dois motivos. Primeiro, somos rapidamente jogados no meio da trama fantástica. Não é explicado como ou porque os monstros começaram a atacar a cidade. Isto apenas acontece. Enquanto o primeiro foca no momento em que os monstros aparecem, o segundo coloca o espectador já no meio desta trama, mas ambos mantêm o mistério por traz da existência destas entidades malignas.
O segundo motivo que torna as duas primeiras produções bem-sucedidas é o modo pelo qual os monstros aparecem gradativamente. A cada cena, um pouco mais é revelado sobre o que está realmente acontecendo na cidade, e desvendamos o estranho acontecimento juntamente com os personagens. Além disso, os filmes ainda seguem uma regra clara: os vilões são os monstros (e humanos que não controlam seu medo).
The Cloverfield Paradox muda as regras que deram nome à franquia. A história começa antes que os monstros apareçam, com uma intenção não muito interessante de explicar como os seres fantásticos surgiram. Assim, com a estratégia de suspense usada nos dois primeiros longas, os acontecimentos sobrenaturais parecem um pouco mais bobos e difíceis de acreditar. A tentativa de explicar um aparecimento tão extraordinário tem o efeito contrário do que o esperado: acreditamos menos na trama.
O filme mais recente da franquia também não decide que tipo de vilão fantástico se faz presente na história, misturando vários obstáculos que não dão unidade à produção. Usando a desculpa de um “paradoxo” na dimensão espaço-temporal, personagens são engolidos por paredes, tem seu interior corroído por insetos intergalácticos, são caçados por humanos de outra dimensão e – talvez o mais inacreditável – tem seus braços decapitados escrevendo mensagens que podem, ou não, salva-los. O terceiro capítulo também se apoia na trama já batida que mostra pessoas no espaço ficando loucas.
E talvez este seja o maior problema de seu enredo. Longas com personagens perdendo sua mente no espaço já foram bastante explorados no cinema, mesmo depois do fracasso de crítica de Esfera (1998), dirigido por Barry Levinson, que também mostra integrantes de uma tripulação espacial se voltando um contra o outro devido ao seu estado mental.
Assim, The Cloverfield Paradox não tem o mesmo suspense e mistério dos primeiros. Isto não quer dizer que não há momentos bons. Gugu Mbatha-Raw, que interpreta a personagem Hamilton, atua muito bem e cria momentos muito emocionantes. O final do filme é interessante e mostra uma cena que lembra os primeiros da franquia Cloverfield. Porém, estas qualidades podem facilmente se perder no meio de muita explicação e ausência de um vilão específico.
*Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.