Neste sábado (16), o 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro promoveu o debate entre os filmes exibidos na noite de abertura. O elenco do filme “Não devore meu coração” juntamente com o diretor, Felipe Bragança, e o representante do curta “Festejo muito pessoal”, Carlos Augusto Calil, conversaram com a plateia.
“Não devore meu coração”, que teve estreia nacional na 50ª edição do Festival, narra a história de amor dos adolescentes Joca (Eduardo Macedo), brasileiro, e Basano (Adeli Gonzales), indígena paraguaia. Joca passa por grandes dificuldades relativas ao cotidiano de fronteira entre o Brasil e o Paraguai e a relação com seu irmão Fernando (Cauã Reymond), motoqueiro envolvido com uma temida gangue.
O longa é inspirado em contos de Joca Reiners Terron e tratam da Guerra do Paraguai. Nesta manhã, Felipe Bragança contou que, ao ler o livro do escritor mato-grossense, se apaixonou pelo imaginário envolvendo a fronteira entre Brasil e Paraguai. O diretor, natural do Rio de Janeiro, não conhecia a região e visitou as cidades durante cinco anos para se ambientar e construir a narrativa. “Os contos do Joca me aproximaram dessa região e das relações afetivas que ali são criadas. Queria entender como é crescer lá”, conta Bragança.
Durante as visitas, Bragança escolheu parte do elenco, formado por moradores locais que não tinham experiências com atuação: “A Adeli Gonzales (intérprete da personagem Basano), encontrei na rua pedindo informação para a irmã dela. Ela disse que só me ajudava se eu contasse a história do filme em dois minutos”.
Questionado sobre o processo de construção do personagem, Cauã Reymond relembrou a vivência. “Eu tive que entender a vida naquela região para construir o personagem. Foi um processo rico de compreensão e aprendizado. Andei de moto pela cidade, conversei com a população para pegar o sotaque. Foi um trabalho muito sensorial para mim e uma ótima experiência”, conta.
Carlos Augusto Calil, produtor delegado, também participou do debate sobre o curta-metragem “Festejo muito pessoal”, com direção de Carlos Adriano. A produção tem como ponto de partida o artigo “Festejo muito pessoal”, escrito em 1977 pelo crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) e publicado postumamente. O ensaio poético faz um balanço de suas relações com o cinema brasileiro e aborda a urgência da preservação de filmes, diante dos numerosos títulos perdidos ao longo do tempo e à margem da história. O filme foi encomendado para as comemorações do centenário de Paulo Emílio.