TED (Idem, 2012) de Seth MacFarlane
Quem nunca quis ter um amigo para a vida inteira?
Esse foi o desejo de uma solitária criança, ao pedir que seu urso de pelúcia se transformasse em seu amigo de verdade para sempre. E depois do desejo realizado ele não imaginava que depois de quase trinta anos as consequências seriam tantas.
Com mais de trinta de idade, Robert Bennet (Mark Wahlberg) é hoje uma pessoa largada e sem pretensões, trabalha numa agência de locação de veículos, mas namora uma executiva emergente (Mila Kunis, bem à vontade). E um pouco influenciado por seu (não tão) ursinho – agora trintão também, que passa o dia bebendo, fumando e vendo Flash Gordon e outras bobagens na TV e a noite se envolve com prostitutas e outras mulheres – tem problemas ao tentar crescer de verdade.
Essa é a história de TED (Idem, 2012), uma das maiores surpresas nas bilheterias de 2012, se tornando um hit, tanto em público, como boa parte da crítica, quanto em comentários.
Escrito, dirigido, produzido e interpretado (a voz do personagem título) por Seth MacFarlane, conhecido por seu trabalho na TV (criador, dentre outros, da série adulta, mas animada, Uma Família da Pesada – Family Guy), mas que faz bem a transição da tela pequena ao cinema. Mantendo o estilo que o consagrou na TV, transformando as falas numa metralhadora giratória de piadas com muito palavrão e grosserias, mas também com tiradas rápidas e inteligentes. E sua história que a princípio surpreende, e na maior parte da projeção é bem engraçada, mas sempre sem concessões ou medo do exagero.
Sim, para você aproveitar melhor tudo o que a fita pode te divertir, primeiro você tem que acreditar que esse urso é real e humano. Ele anda, fala, sente, dorme com mulheres, fuma maconha, bebe (muito) e pensa (na maior parte do tempo bobagens). É o ápice do cruzamento entre a irresponsabilidade e um despretencioso bon-vivant da classe média americana (ter um trabalho de meio-período e curtir a vida), que se satisfaz com pouco e se diverte muito mais com quase nada.
Mas o estilo de vida do ursinho safado nunca é elevado como um modelo a ser seguido, ou que seja a melhor das escolhas, e a obra deixa bem claro isso, quando a amizade é testada ao por os desejos de Lori (Kunis), que namora John há quatro anos, e quer algo mais de seu relacionamento. Portanto John (Wahlberg) precisa mudar, ter objetivos e enfim dar o passo decisivo à maturidade.
Um humor politicamente incorreto e extremamente rápido com piadas em profusão (como o diálogo em que Wahlberg tenta acertar o nome da namorada nova de Ted, ou quando Ted bate o carro – “eu estava tuitando”, ou a paquera no supermercado, a música do ‘medo do trovão’, entre outras) povoam a comédia com senso de humor afiado. O roteiro ri, e muito, da vida do americano médio e fracassado e Mark Wahlberg faz piada de si a todo instante, uma clara e acertada postura de viver o personagem com orgulho, exatamente como ele é. Seu ritmo é por vezes insano (a festa além dos limites com Flash Gordon e o embate entre Ted e John num quarto de hotel, lembrando Borat, 2006), e mesmo com a perda de ritmo na segunda metade (incluindo uma trama que flerta com as situações de comédia romântica) a surpresa positivamente se mantém e TED, o filme, arrebenta. É divertido e (na maior parte do tempo) hilariante. NOTA: 8,0
INFORMAÇÕES ESPECIAIS:
Mark Wahlberg foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante em Os Infiltrados (2006); Mila Kunis ganhou prêmio em Veneza por sua atuação em Cisne Negro (2010), que lhe rendeu também indicação ao Globo de Ouro de coadjuvante; Seth MacFarlane é criador das séries animadas de TV Family Guy – Uma Família da Pesada (1999~), American Dad (2005~), Cavalcade of Cartoon Comedy (2008~) e The Cleveland Show (2009~) e será o apresentador do Oscar 2013;