Após me deparar com O Chamado 3 (Rings, 2017) de F. Javier Gutiérrez já inicio meu texto com um pedido: deixem a Samara em paz! Explico:
Abandonada pelos pais, foi adotada pro uma família de fazendeiros. Contudo, família era uma palavra que não se aplicava ali.
Após relatarem atos estranhos, primeiro ela foi forçada a dormir com os cavalos no estábulo da casa, após ser culpada das visões que a mãe tinha.
Essa ação da mãe acarretou que, a menina não conseguia dormir com o barulho dos cavalos, o que provocou ódio aos animais. Complexada e possessa, Samara passou a teleguiar os cavalos com a mente, obrigando-os a se atirarem ao mar.
Os pais procuraram um médico, mas os exames não indicavam nada. Ao suspeitarem que a garota era guiada por um espírito maligno, eles decidiram matá-la.
Premeditada, sua morte se deu em um poço. Sua mãe adotiva tentou sufocá-la com um saco plástico, e, acreditando que estava morta, a jogou no poço, mas ainda com vida, viu a tampa do poço se fechar. Antes de morrer, agonizou lá por sete dias, e é daí que vem a maldição dos sete dias que o filme O Chamado (The Ring, 2002), aplica.
Pois bem, o primeirão, remake do filme japonês de horror Ringu (1997), fez um imenso sucesso de público (U$ 250 milhões arrecadados) e foi também bem recebido pela crítica. Sim, é o tipo de filme de horror com um roteiro redondo, sustos reais que fazem sentido a favor da história e uma protagonista que tinha uma intérprete incrível: a indicada ao Oscar, Naomi Watts. Sim, o filme metia aquele medo com a maldição de 7 dias da Samara, e após assisti-lo, era impossível conseguiria atender um telefone se ele tocasse no meio da noite.
Enfim, a pressão para que saísse uma continuação não tardou. E até que Naomi Watts segurou a onda enquanto pôde, e mesmo após a saída de seu diretor, Gore Verbinski, a escolha do novo foi bem interessante: Hideo Nakata. O diretor do Ringu original era o escalado para trazer Samara de volta. A sequência estreou em 2005 – O Chamado 2 (The Ring Two) – e atingiu até bons números (mas não avassaladores, com U$ 161,4 milhões em caixa). Contudo o sentimento era de um de caça-níquel morno. Ou seja, já estava na hora de deixar de recontar a história de Samara no cinema.
E não apenas recontar, mas revirar e esmiuçar mesmo a sua história. E gente, coitada da Samara.
Na segunda parte, podemos descobrir que a menina tinha um poder estranho de que, tudo o que via, podia ser reproduzido em um objeto, como consta na pasta de arquivos que ela tinha no hospital em que ficou internada. Ela também mostrou esta habilidade na fita, pois a partir dela, surgia um portal que a trazia ao plano material. Exatamente a tal fita, que continha algumas imagens recolhidas pela menina ao longo dos seus oito anos de vida.
E mais, para desenhar mesmo, descobrimos então que a tal fita foi criada depois que a menina morreu e voltou ao plano material como um espírito, para matar todo aquele que visse seu vídeo, dentro de um período de sete dias. Não sem antes dar o alerta através de uma ligação que era recebida após o fim do vídeo.
Ok…E agora? O que precisa ser contado sobre Samara? Porque ela voltaria? Só com um sentido muito grande para fazer com que uma terceira parte funcionasse, ainda mais depois de tanto tempo. Sim, pois desde o primeiro O Chamado, lá se vão 15 anos!
Pois bem, agora temos o tal O Chamado 3 (2017), a terceira parte do remake de horror. Mas o resultado é tão ruim, que não consegue ser nem aquelas fitas de horror que assusta por assustar, sem nenhum tipo de razão. No fim das contas, é um verdadeiro pedido de socorro.
Nas trama, Julia (Matilda Anna Ingrid Lutz) fica preocupada quando seu namorado, Holt (Alex Roe), começa a explorar a lenda urbana sobre um vídeo misterioso. Lenda esta que diz que quem assiste morre depois de sete dias.
A história não tem fundamento – ir atrás da origem de Samara de novo? E descobrir seu corpo e sua história? Nada disso causa nenhum susto decente – nem indecente, diga-se. E até mesmo seu prólogo dentro de um avião, que poderia assustar com o seu retorno triunfal, é simplesmente cortado no ápice.
Pior é saber que gente muito boa está por trás do filme ou leia-se, tem alguma culpa nisso aqui. Entre os produtores, dois bambas de Hollywood, a dupla Laurie MacDonald e Walter F. Parkes, de sucessos como Gladiador (2000), MIB: Homens de Preto (1997) e O Voo (2012). Ehren Kruger, roteirista por trás dos dois primeiros O Chamado (2002; 2005), de Pânico 3 (2000), mas também dos últimos três Transformers (2009; 2011; 2014), é produtor executivo. E um dos roteiristas que tentou dar um jeito na história, é o veterano Akiva Goldsman (Oscar por Uma Mente Brilhante, 2001). Já seu diretor, F. Javier Gutiérrez, não consegue criar clima algum de suspense, e até mesmo as aparições de Samara são pífias.
Ainda, o elenco jovem é muito ruim, principalmente o casal Alex Roe e Matilda Lutz. Mas posso citar ainda que tanto o veterano Vicent D´Onofrio – como um cego com um passado sinistro – quanto o eterno Leonard de The Big Bang Theory, Johnny Galecki, como um professor espertinho que levanta uma tese estrambólica sobre a maldição de Samara, passam vergonha.
E voltando ao que escrevi no início: que tal vocês deixarem Samara em paz? Esse renascimento não colou nem aqui, nem no Japão, onde originalmente veio sua história.