Talvez muitos não saibam, mas o diretor brasileiro Paulo Machline já concorreu ao Oscar. Indicado pelo curta-metragem Uma História de Futebol (1998), que reconta passagens da infância do menino que viria a ser Pelé, o paulistano está de volta às telas dos cinemas do Brasil, O Filho Eterno.
Na trama do drama, que estreia dia 1º de dezembro em todo Brasil, o casal Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Débora Falabella) aguarda ansiosamente pela chegada de seu primeiro bebê. Roberto, que é escritor, vê a chegada do filho com esperança e como um ponto de partida para uma mudança completa de vida. Mas toda a áurea de alegria dos pais é transformada em incerteza e medo com a descoberta de que Fabrício, o bebê, é portador da Síndrome de Down. A insatisfação e a vergonha tomam conta do pai, que terá de enfrentar muitos desafios para encontrar o verdadeiro significado da paternidade.
Em entrevista exclusiva com o Clube Cinema, o também roteirista fala não apenas do seu novo projeto, mas também de Futebol, passa a limpo a sua carreira, revela seu próximo filme, conta sobre a alegria de finalmente trabalhar com Débora Falabella e seu descontentamento com a distribuição de Trinta (2012).
Clube Cinema: Como o projeto de O Filho Eterno chegou até você? Ou você chegou até esse projeto?
Paulo Machline: O Filho Eterno chegou até mim. Rodrigo Teixeira, produtor da RT Features, me convidou para dirigir, apostando que o conteúdo casaria com o meu estilo de condução. E eu fiquei bem feliz com o projeto, tanto em dirigi-lo, quanto com o seu resultado final.
CC: Como você avalia a sua evolução como diretor de cinema, se olhar lá para 1998 com Uma História de Futebol (e que concorreu ao Oscar de melhor curta) até hoje, com O Filho Eterno?
PM: Uma História de Futebol (1998) – curta, os longas Natimorto (2009), o doc A Raça Síntese de Joãosinho Trinta (2009), Trinta (2012) e agora O Filho Eterno (2016), cada filme tem a sua característica… Mas Trinta e Uma História de Futebol são meus roteiros também, o que gera mais proximidade. Consigo perceber que em cada um deles consegui criar diferentes abordagens, pois tenho a liberdade de criação, desenho e decupagem das obras. Acredito que o mais importante é conseguir se envolver e levar meu olhar com cada um dos filmes.
Olhando para O Filho Eterno, desde o início era um projeto sensível, delicado, e a gente trabalhou dessa forma, para que atingisse o melhor resultado nesse sentido. Ainda assim, creio que os meus filmes se comunicam entre si, tem uma emoção em cada construção dos personagens, delicadeza em suas abordagens, apesar do Natimorto ser bem mais pesado; E Trinta, apesar da fórmula de bio, tem muita emoção também…
CC: Futebol é um tema recorrente para você. Uma História de Futebol – que tem o Pelé, e agora O Filho Eterno – com tem um subtexto muito forte de futebol (adaptado no cinema muito bem, de um clube para a Seleção), não é? Falando nisso, que time você torce?
PM: Sou santista bem doente, e veja muito futebol. Acompanho também a Seleção – e agora que voltou a brilhar, melhor ainda… Adoro campeonatos europeus – tenho um documentário sobre os títulos mundiais do Santos… E sim, em O Filho Eterno nós fizemos uma adaptação a respeito do futebol. No livro de Cristovão Tezza, o foco do futebol é a torcida para Atlético Paranaense, e no cinema conseguimos uma adaptação mais universal, para a seleção brasileiras, para marcar a passagem de tempo. Em Trinta e Natimorto não haviam espaço para o futebol, mas minha identificação com o futebol é real e apaixonada. E Uma História de Futebol respira o tema…
CC: Como lidar com o fato de seu protagonista – Marcos Veras – é um comediante encarando um papel muito sério? Me lembrou a mudança do Jim Carrey quando estrelou O Show de Truman, depois O Mundo de Andy e O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças…
PM: Quando começou a pensar no elenco, eu tinha dois caminhos. Atores especialistas em drama, que seria o óbvio, ou seja, cair na dramatização mais pesada. O outro, era trazer alguém de outro lugar, mas que o personagem pudesse criar uma simpatia com o público, e pelo teor, eu não queria que ele fosse odiado. Pelo fato de ser o Veras (conhecido do grande público pelos vídeos do Porta dos Fundos), acredito que ele carrega a vantagem de ter o público ao seu lado. Foi uma aposta nossa, e demonstrou que queria muito estar no longa, sem dúvida foi um desafio para ele, e ao acreditar na versatilidade dele, vejo hoje que deu tudo certo.
CC: E a Débora Falabella, com uma personagem praticamente criada para o filme…
PM: Sempre quis trabalhar com a Débora, e fiquei extremamente feliz em tê-la no filme. Inclusive quero escrever um filme para ela, que é incrível.
CC: Eu admito que me emocionei, principalmente no terço final, e que o drama familiar pode atingir um público bem abrangente. Qual é a sua expectativa de público para o seu filme?
PM: Não gosto muito de falar em números de bilheteria. Tivemos um boom de comédias e a surpresa de O Shaolin do Sertão (que o Veras participa também). Mas por exemplo, quando finalizei Trinta, nosso produto se encaixava em um público de médio para grande, o personagem da cinebio era reconhecido, o ator fantástico, enfim… Fiquei bem chateado com a distribuição e publicidade da obra, o trabalho de comunicação não foi a contento.
Esquecendo isso e olhando para O Filho Eterno, de cara existe um universo e público-alvo de famílias que convivem com a Síndrome de Down. Fizemos sessões especiais com debate, e as famílias se enxergavam no filme, e a resposta foi incrível, por isso, acredito que já temos esse público. Mas o outro público são as outras famílias, que mesmo sem ter uma criança especial, vai gostar da nossa obra. Podemos chegar nesse público, que é um drama familiar universal, sensível. Com esse elenco e com a delicadeza que filme que se propõe, acredito que vamos encontrar seu próprio público. Mesmo assim não arrisco número para o filme.
CC: Qual o seu próximo projeto?
PM: Já estou em busca de um elenco para o longa, O Meu Sangue Ferve por Você, com filmagens previstas para o primeiro semestre de 2017. Para mim será uma novidade, pois o projeto é uma comédia romântica musical, que conta a história do dia que Sidney Magal conheceu a sua esposa, e como ele conseguiu se casar com ela.