Estreou no último 8 de abril, na Espanha, o novo filme de Pedro Almodóvar, Julieta (2016). Na trama, o espectador acompanha os dramas, silêncios, arrependimentos e sofrimentos da vida da personagem-título (interpretada por Emma Suarez e Adriana Ugarte), entre os anos de 1985 e 2015.
O filme ainda não tem estreia de previsão no Brasil, mas o Clube Cinema já conferiu a película no Cine Verdis. Cinéfila de carteirinha, Zélia Bastos* esteve em uma sessão concorrida, na agradável noite de Barcelona, e descreve pra gente as suas percepções sobre o novo drama de Almodóvar (vencedor do Oscar de roteiro original por Fale com Ela, 2002).
“Almodovar com roteiro baseado em Alice Munro = tédio
Julieta (2016) tem roteiro baseado nos contos ‘Destino, Logo e Silêncio’, de Alice Munro, escritora canadense ganhadora do Nobel. Para a Academia Sueca, em suas histórias a maior dor não se expressa, “interessa-lhe o silencioso e o silenciado, as pessoas que escolhem não escolher, os que vivem à margem, os que abandonam e os que perdem.” Num filme de Almodovar sentimentos e emoções contidas à canadense não poderia mesmo funcionar!
Adriana Ugarte (revelação para a crítica espanhola em Cabeza de Perro, 2006) é a jovem (e bela) Julieta. E com o passar dos anos, Emma Suárez (Goya de melhor atriz por El Perro Del Hortelano, 1996). Ainda no elenco, a estranhíssima Rossy de Palma, habituê de muitos dos filmes do cineasta espanhol.
É flagrante, realmente o filme não tem o toque de Pedro Almodovar. Cineasta afeito aos sentimentos femininos em profusão, Aqui se contenta com emoções rasas, sem qualquer dramatismo pulsante. O único encontro evidente entre os mundos de Munro e Almodóvar é que, o cerne da história, se trata do mundo feminino: uma relação entre mãe e uma filha, que some sem explicação. Conheço apenas alguns contos da Alice Munro já passados para a tela tem a mesma chatice, vide Longe dela (2006) e Amores Inversos (2013). Mas a mulher é prêmio Nobel! Quem sou eu para dizer isto, não é? E Almodovar deve gostar, pois um livro dela aparece em um de seus filmes, ‘A Pele em que Habito’ (2011).
Mesmo com o clima de tédio, ainda percebe-se as cores vibrantes do espanhol aqui e ali, como se tentasse no falar algo através de sua cenografia. Contudo, procurei pela lembrança após a sessão, alguma cena marcante ou diálogo digno de nota. Aí é que está, não tem nem cena nem diálogo que me emocionasse.”
* Zélia Bastos é cinéfila e atualmente curte a aposentadoria batendo perna pelo mundo.