Por Davi Nogueira*
A parceria entre as gigantes Marvel e Netflix causou empolgação em fãs ao redor do mundo quando anunciou que traria, em formato de seriado, alguns dos heróis mais populares das HQs para as telinhas.
Foram anunciadas, primeiramente, cinco produções: Demolidor (Daredevil) – cuja primeira temporada foi um estrondoso sucesso em 2015 -, Jessica Jones (também um enorme sucesso no ano passado), Luke Cage (com data marcada para setembro de 2016), Punho de Aço (2017) e, finalmente, o encontro de todos esses heróis em Os Defensores, time que se une para conter uma ameaça maior na cidade de Nova York.
Todos esses heróis, diferente do que vimos no universo Marvel nos cinemas, possuem características mais urbanas, mais cruas, mais violentas e são mais calcados na realidade. Ainda que citações sejam feitas sobre o MCU nos seriados, e que rumores indiquem uma participação dos Defensores nos cinemas (em algum momento eles encontrariam Os Vingadores/Avengers), o fato é que são tons completamente diferentes.
A segunda temporada de Demolidor chegou semana passada ao Netflix reafirmando a vontade de seguir um caminho declaradamente mais sombrio e violento. Se na primeira temporada o espectador pôde testemunhar o nascimento do herói (sempre em conflito consigo mesmo e com seus próprios ideais), um vilão chocante (Wilson Fisk), cenas de alto impacto (como a já famosa luta sem cortes em um corredor) e uma produção de altíssima qualidade, aqui as coisas são ficam ainda melhores.
Demolidor já é um “vigilante” mascarado em total funcionamento, tentando transformar as ruas de Hell’s Kitchen mais seguras após a prisão de Fisk, quando surge em cena o icônico personagem das HQs Frank Castle. Conhecido como O Justiceiro, ele nunca muito sucesso em suas adaptações para o cinema mas aqui encontra sua perfeita encarnação na atuação visceral e assustadora de John Berthal. Um anti-herói marcado pela tragédia Castle é o exato posto de Matt Murdock. Sem nenhum senso de ética ou piedade ele faz justiça com as próprias mãos matando impiedosamente os criminosos que passam pela sua frente.
Não demora para que esses opostos entrem em rota de colisão. O embate físico (as lutas entre os dois são de tirar o folego) é tão poderoso quanto o embate moral (os diálogos também são primorosos). A história entre os dois progride rápido, sem enrolação. Logo no primeiro capítulo temos mortes e pancadaria para ninguém botar defeito. Os personagens são muito bem desenvolvidos, e conseguem dividir o mesmo espaço de forma equilibrada.
Mas é a partir do quinto capítulo, que Demolidor mostra que as coisas estão apenas esquentando. É quando surge outra personagem emblemática dos quadrinhos, a ninja assassina Elektra. Primeiramente introduzida como antigo interesse amoroso de Murdock, ela não demora a mostrar suas verdadeiras intenções. Impiedosa, sexy e manipuladora, a ninja é uma versão fiel dos quadrinhos, bem longe da versão aguada do cinema.
Sua interação na história é orgânica e se mostra surpreendente. Falar mais é o mesmo que estragar algumas surpresas, mas posso adiantar que um dos perigos que ela traz é sobre a famosa organização A Mão. Na verdade, surpresas não irão faltar aos fãs mais ardorosos e até mesmo para quem não é tão familiar ao universo do Demolidor, um dos mais ricos das histórias Marvel.
Prepare-se para uma montanha russa de emoções, cenas eletrizantes (atenção para uma sequência de luta que se passa dentro de uma prisão, simplesmente memorável), uma história bem amarrada e totalmente cativante. Além de algumas participações especiais pelo caminho. Demolidor pode não ser cinema, mas luta de igual para igual.
*Davi Nogueira é publicitário, redator e cinéfilo