O que podemos esperar de um texto original de Stephanie Meyer? Já tivemos provas sufucientes com a série Crepúsculo que seu substrato para um texto cinematográfico são de valores bem questionáveis. E com “A Hospedeira” (The Host, 2013) o resultado não é diferente.
A nova adaptação de um livro seu para o cinema é uma vitamina de gêneros, com a adição de um triângulo (ou seria quarteto?) amoroso, uma invasão alienígena e o confronto entre humanos e invasores. Um romance de ficção científica sonolento e inacreditável de tão ruim.
O mote é interessante. Conhecemos uma Terra completamente pacificada, limpa, sem fome, em total harmonia. Há respeito ao próximo, suprimentos liberados nos supermercados e um monitoramento organizado. Os responsáveis por tudo isso são alienígenas, que invadiram o nosso planeta e tomaram os corpos dos humanos, antes que nós destruíssemos o nosso planeta.
Após essa apresentação é hora de conhecer a protagonista. Uma humana em fuga, Melanie (Saoirse Ronan) é capturada pelos aliens e tem o copro tomado por Peregrina. Mas a força de vontade de Melanie é tamanha que ela consegue existir dentro dos pensamentos de sua invasora. O desafio agora é fugir e encontrar sua família e seu namorado, Jared (Max Irons).
Dividia entre os pensamentos de Melanie e a ação de Peregrina, a talentosa Saoirse Ronan está em situação indesculpável. A sua inexpressividade é que comanda. O único que se salva é o veterano William Hurt, no papel do tio que comanda a resistência.
Bizarro
Por trás de um novo olhar sobre uma sociedade num futuro distante, no fundo há o insistente clima de romance adolescente, do amor puro e perfeito, pois em sua concepção, o amor é a chave para a paz mundial. Eu gostaria de acreditar que o prórprio filme não se leva a sério, mas não é. A autora quer que acreditemos piamente em sua história. Que o futuro é feito de uma Terra dominada por aliens, que usam os corpos dos humanos como hospedeiros e instauram uma sociedade insípida, inodora e incolor.
Bem, as roupas oficiais são brancas e prata, os veículos – entre Ferraris, super motos e helicópteros – todos prata espelhado, brilhando de brega. Mas… Ainda piora. Melanie e Peregrina dividem o mesmo corpo, falam uma com a outra, mas para diferenciá-las (e precisa?) a humana fala em pensamentos com sua voz em eco, enquanto a alienígena Peregrina (Saoirse Ronan) responde em alto e bom som, como se estivesse falando sozinha, sempre. Acho que não era para rir, mas é inevitável. O resultado pode ser definido numa palavra: bizarro.
Quer mais? Entre frases de livros de auto ajuda, mensagens que exaltam o amor perfeito e declarações de amor dignas de papéis de bombons e chocolates de tão piegas há um quarteto amoroso formado por dois humanos que não se batem, Melanie e Peregrina (no mesmo corpo, diga-se de passagem!) ao estilo… ‘Crepúsculo’ e uma alienígena perseguidora (Diane Kruger, descontrolada, fora de sintonia com a proposição alienígena). São duas intermináveis horas, que parecem ser mais de três.
Andrew Niccol
O diretor e roteirista Andrew Niccol não precisava passar por esse constrangimento. Apesar de continuar sendo coerente em fazer filmes que discutem e envolvem o poder do controle, Niccol é bom o suficiente para escrever algo muito melhor. Aqui, ficou evidente que era impossível de se esquivar do desastre, pois a sua missão foi adaptar o livro de Stephanie Meyer. O material é o problema e o filme é indefensável.
Seu talento para escrever filmes é comprovado com o roteiraço de “Truman Show, o Show da Vida” (1998) – indicado ao Oscar de roteiro original e o divertido “O Terminal” (2004). Além disso, já dirigiu e escreveu grandes filmes como “Gattaca – Experiência Genética” (1997) e “O Senhor das Armas” (2005), e outros títulos dignos de nota, como “O Preço do Amanhã” (2011) e “S1mone” (2002). Espero que ele consiga apagar o pífio A Hospedeira (2013) com uma nova e arrebatadora obra. Caneta e cabeça ele tem para isso, pois até a sua direção aqui é inexistente. Um dos piores filmes do ano, fácil.