Gente Grande 2: uma grosseria travestida de cinema
O mercado cinematográfico tem casos muito curiosos. O sucesso do primeiro Gente Grande (2010) é um deles. Um filme de humor (muito) grosseiro e que faz constantemente uma pergunta aos seus protagonistas: quando será que vão crescer? O chamariz foi juntar os comediantes Adam Sandler, David Spade, Chris Rock e Kevin James em que fazem quase eles mesmos. O público o transformou num considerável sucesso de bilheteria (U$ 271 milhões em renda mundial) e uma continuação foi programada.
Aqui estamos, com Gente Grande 2 (Grow Ups 2, 2013) do mesmo Dennis Dugan (não que isso seja uma vantagem), que traz de volta seu elenco original (ô vantagem), que incluem atrizes talentosas para papéis vergonhosos (coitadas) e o mesmo modus-operandi de tentar fazer rir: com a pura grosseria de piadas físicas e ‘lições de moral’ que envolvem bullying e vingança.
“Espirrotopum”
Se no primeiro filme, os amigos se reencontram depois de 30 anos para passar o feriado de 4 de julho numa casa de lago, com as respectivas famílias, agora acompanhamos as lições de moral de pais para os filhos. Além de uma festa dos anos 80 que promete reunir toda a comunidade numa infinidade de grosserias. Só para sentir o nível, uma das grandes ‘sacadas’ (só que não) da comédia é de disseminar o incrível “espirrotopum”! Sim, há várias cenas nas quais há a emissão de um espirro, seguido de um arroto e depois um pum. É daí pra baixo.
As ‘piadas’ são diluídas em sequências como uma aula de dança para as crianças, com insinuações sexuais da professora meio doce, meio vulgar (April Rose, creditada como ‘professora de dança gostosa’!?), uma aula de ginástica, um confronto com alunos de uma fraternidade de playboys com saudações indescritíveis (comandados por Taylor Lautner), compras num supermercado (e a piada do bote), uma festa de estudantes (bêbados) no rio, um desafio de pular de um despenhadeiro e uma voltinha dentro de um pneu gigante.
‘Lições’
Entre as máximas de Gente Grande 2, o papai Adam Sandler grita e briga para mostrar ao filho como se faz para fugir do bullying, o qual há uma espécie de ensinamento propagado que diz para você praticá-lo antes que pratiquem em você. Que profunda… Ignorância. Essa é uma entre várias lições de idiotice que são despejadas ao longo do filme (como colocar uma criança para dormir à força). E mais, as vinganças infantis são necessárias (!?) e por fim, o que vale é resolver tudo na porrada. Inacreditável.
Enquanto dá aulas de sedução ao filho, Adam Sandler solta essa: “O feio pode pegar a mais bonita das meninas. Eu e sua mãe (Salma Hayek) juntos? Só num filme de Hollywood!” E ao pedir um remédio para raiva, o médico rebate: “Jack Daniels”. Duas piadas ok, perdidas num mar de piadas físicas, xingamentos, vômitos, um bordão idiota (“wahaaat!”), um alce (!?) e afins. Definitivamente, um ‘filme’ que imbeciliza as pessoas sem dó nem piedade.
Elenco
Mais uma vez, o elenco feminino talentoso (Salma Hayek, Maria Bello e Maya Rudolph) são completamente desperdiçadas numa sessão interminável de imbecilidades infantis. Inaceitável. Há também as participações de Shaquille O´Neal (o policial abobalhado), John Lovitz (o tarado da academia), Steve Austin (como o brigão e esposo da professora) e (de novo) Steve Buscemi passando vergonha. Dos comediantes não há o que falar. Eles não interpretam nada mesmo.
Anos 80
A festa dos anos 80 vale pela nostalgia. Chris Rock de Prince. Sandler é Bruce Springsteen. David Spade de Oates (sua dupla, Hall, é seu filho). Kevin James de Meatloaf. Há também fantasias de Donald Trump, Kiss, Papai Smurf, Boy George, Hulk Hogan, B.A. do Esquadrão Classe A, Indiana Jones, Tina Turner, Madonna, Cindy Lauper, Devo e muitos outros, além de uma performance ao vivo da banda oitentista J. Geils Band. Mas que não é capaz de salvar o estrago nem por um segundo.
Existem filmes abobalhados engraçados, que tem a sagacidade de incluir piadas inteligentes e sacadas de roteiro. Que não é o caso de Gente Grande 2, que não tem nem um roteiro e mais uma vez não é indicado nem para gente pequena. Uma ode a estupidez humana, mas desta vez sem graça nenhuma.