Em março de 2018 eu escrevi um post que listava os 10 Piores Filmes que Ganharam o Oscar de Melhor Filme. Mas olha, após a cerímônia de 2019, com a vitória do esquecível Green Book – O Guia (Green Book, 2018), eu tive de refazer essa lista imediatamante para relembrar outros casos. Por fim, aumentamos para 15 piores vencedores do Oscar…
A lista pode ser até vista como polêmica, mas, como havia escrito em 2018, a lista que você lerá abaixo não traz exatamente os piores filmes do Oscar, mas em termos de comparativos diretos, entre vencedores do Oscar de melhor filme e quem deixou de ganhar a estatueta.
Sim, o tempo tratou de mostrar quem realmente são os melhores de cada ano. Até gosto de alguns dos vencedores listados, mas muitos dos filmes perdedores são bem melhores, em qualidade, realização e importância ao cinema.
1941 – Filme que ganhou: Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valley, 1941) de John Ford.
Drama familiar otimista sobre uma família que trabalhava nas minas de carvão do País de Gales na virada do século. Funcionou como o elixir da bondade para a Academia em plena erupção da 2ª Guerra Mundial. Cinco Oscar: melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Donald Crisp), fotografia (P&B) e direção de arte & cenários (P&B).
Filme que merecia ganhar: Cidadão Kane (Citzen Kane, 1941) de Orson Welles.
Cidadão Kane é somente um dos melhores filmes de todos os tempos. Ao contar a polêmica história de um magnata da comunicação que é corrompido pelo poder, Orson Welles revolucionou a sétima arte. A obra-prima venceu o Oscar de melhor roteiro original. E para completar o ano desastroso da Academia, entre os perdedores havia também um clássico do noir, Relíquia Macabra – O Falcão Maltês (1941) de John Huston.
1956 – Filme que ganhou: A Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in Eighty Days, 1956) de Michael Anderson.
A superprodução hollywoodiana que adapta o livro de Julio Verne ficou marcada por problemas de produção, diretores não creditados e participações especiais. A aventura sobre uma aposta milionária é uma sessão da tarde e só. Cinco Oscar: melhor filme, roteiro adaptado, montagem, fotografia (cor) e trilha sonora.
Filme que merecia ganhar: Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956) de George Stevens.
Drama épico espetacular. É uma vigorosa crônica sobre como uma nação é construída. Na trama, o embate e a ascensão social de um trabalhador americano, e a busca paralela pelo poder vs. felicidade/amor. Oscar de melhor direção para George Stevens e nove derrotas em outras categorias, incluindo a póstuma de ator coadjuvante para James Dean. Entre os derrotados havia outro épico melhor que o vencedor, Os Dez Mandamentos (1956) de Cecil B. DeMille.
1968 – Filme que ganhou: Oliver! (Idem, 1967) de Carol Reed.
Filme que merecia ganhar: três adaptações de peças de sucesso seriam escolhas bem melhores que o musical Oliver! Pela ordem, o imponente O Leão no Inverno (The Lion in the Winter) de Anthony Harvey e que venceu três estatuetas (roteiro adaptado, trilha sonora e atriz), o shakespeariano Romeu e Julieta (Romeo and Juliet) de Franco Zefirelli e que venceu o Oscar de figurino e fotografia, além do divertidíssimo Funny Girl: A Garota Genial (Funny Girl), que deu à Barba Streisend o Oscar de atuação (empatada com Katherine Hepburn em O Leão no Inverno). Esse ano foi difícil.
1980 – Filme que ganhou: Kramer Vs. Kramer (Idem, 1979) de Robert Benton.
Filme que merecia ganhar: que tal o épico de guerra, Apocalypse Now (1979)? Para mim, indiscutível, para a Academia, melhor premiar um drama familiar sobre separação, para mostrar as famílias americanas que apesar de tudo, as coisas podem ficar bem. Falar de Vietnã era demais para o Oscar naquele momento com cicatrizes ainda tão fortes, principalmente com um subtexto tão forte no filme de Francis Ford Coppola, que venceu os prêmios de melhor fotografia e som. E só.
1981 – Filme que ganhou: Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980) de Robert Redford.
Apesar do tema pesado, a estreia na direção de Redford foi recebida com muita alegria pela Academia. No cardápio, melodrama familiar, suicídio e depressão, temperado com interpretações espetaculares. Poderia ter ficado em algumas estatuetas de interpretação, mas levou quatro prêmios: melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Timothy Hutton) e roteiro adaptado.
Filme que merecia ganhar: Touro Indomável (Raging Bull, 1980) de Martin Scorsese.
Essa eu li em “Como a Geração Sexo-drogas-e-rock’n’roll Salvou Hollywood” (Peter Biskind). Muitos produtores não queriam produzir um filme tão forte sobre boxe, pois recentemente Rocky (1976) já havia ganho o Oscar. Portanto a Academia não premiaria o mesmo tema tão cedo. Dito e feito. A loucura do boxeador Jake LaMotta é um primor de técnica e emoção na mãos de Scorsese. DeNiro engordou para brilhar (ganhou o Oscar de melhor ator), a montagem perfeita (venceu a estatueta) e a fotografia P&B completavam o pacote cinco estrelas. Mas a cereja do bolo (melhor filme) não veio.
1982 – Filme que ganhou: Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981) de Hugh Hudson.
Filme que merecia ganhar: Reds (1981), a escolha mais política, social e até artística, ou até Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark), no qual Spielberg apresentou Indiana Jones ao mundo com uma aventura que entrou para a história. O vencedor até hoje é visto como uma das maiores zebras da história da Academia.
1984 – Filme que ganhou: Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983) de James L. Brooks.
Filme que merecia ganhar: o vencedor do ano é um filme gostosinho, com drama familiar e romance bem distribuídos, mas ele venceu um filmaço chamado Os Eleitos (The Right Stuff) de Philip Kaufman, um épico sobre a corrida espacial americana. Ao perdedor de melhor filme, restou quatro estatuetas técnicas (Montagem, Trilha Sonora, Mixagem de Som e Som).
1986 – Filme que ganhou: Entre Dois Amores (Out of Africa, 1985) de Sidney Pollack.
Filme que merecia ganhar: A Cor Púrpura (The Color Puple), mas aparentemente a Academia não estava pronta para consagrar o lado adulto e tocante de Steven Spielberg, ao mesmo tempo que falaria de racismo em pleno anos 80. O drama que entrou na festa com 11 indicações, acabou a noite com ZERO Oscar. Ah, e no mesmo ano ainda teve os mais poderosos A Testemunha (Witness) de Peter Weir e diferente O Beijo da Mulher Aranha (Kiss of the Spider Woman) de Hector Babenco. Sim, o filme de Sidney Pollack é bom, mas o épico romance que se passa em belas paisagens da África é inferior à pelo menos esses dois acima.
1990 – Filme que ganhou: Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989) de Bruce Beresford.
Filme que merecia ganhar: o tocante Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poet Society), que venceu o Oscar de roteiro original. Até mesmo Nascido em 4 de Julho (Born in 4th of July) é um filme mais forte, mas particurlamente para mim, um filme que me toca muito mais que o vencedor, é Campo dos Sonhos (Field of Drems).
1999 – Filme que ganhou: Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998) de John Madden.
Filme que merecia ganhar: o clássico sangrento, O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan), que traduz os horrores do desembarque da Normandia, e em seguida investe em uma missão de resgate em plena 2ª Guerra Mundial. Ou até mesmo o pacifista Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line). Os dois, bem melhores que o bonitinho, mas só isso mesmo, vencedor. Só lembrando que o épico bio-histórico Elizabeth (1998) também estava entre os nomeados à melhor filme.
2003 – Filme que ganhou: Chicago (2002) de Rob Marshall.
Filme que merecia ganhar: a história real de guerra contada em O Pianista (The Pianist), um belíssimo drama sobre o holocausto. Por ele, Roman Polanski venceu o prêmio de melhor direção. E o vencedor? É apenas um musical divertido, mas MUITO longe de ser o melhor filme do ano.
2006 – Filme que ganhou: Crash – No Limite (Crash) de Paul Haggis.
Filme que merecia ganhar: O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain) de Ang Lee ou até mesmo Munique (2005) de Steven Spielberg. O primeiro deu ao seu diretor o Oscar, em um filme que quebra paradigmas (um romance proibido entre dois cowboys), e está marcardo como uma das grandes injustiças da premiação. O filme de Spielberg também é muito mais cinema que o vencedor, apesar de seu planfeto anti-racista bem executado.
2011 – Filme que ganhou: O Discurso do Rei (The King´s Speech, 2010) de Tom Hooper.
Filme que merecia ganhar: A Rede Social (The Social Network) dizia muito mais sobre o nosso tempo que a história real de um rei gago. A obra de David Fincher perdeu junto à grandes filmes, esnobados também. Bravura Indômita (True Grit), o remake dos Irmãos Coen, por exemplo não levou nenhum esttaueta para casa. O inventivo A Origem (Inception) se contentou com prêmios técnicos e perdeu até a categoria de roteiro original. E para fechar a lista, temos os superiores Toy Story 3, a animação mais emocionante da história, e Cisne Negro, ambos bem melhores que o drama vencedor.
2014 – Filme que ganhou: 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013) de Steve McQueen.
Filme que merecia ganhar: o inovador Gravidade (Gravity), ou Ela (Her). Para o primeiro, todos os prêmios técnicos, e um Oscar ao seu diretor, Alfonso Cuarón. Ao segundo, a estatueta de melhor roteiro original. Justo, mas ambos poderiam ter saído com o principal prêmio do ano, facilmente. E olha que ainda tinha O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) de Martin Scorsese na lista dos indicados. Ganhou a aula de história, por vezes didático, por vezes duro e forte, mas no geral passa por média, sem atingir o topo entre os melhores do ano.
2019 – Filme que ganhou: Green Book – O Guia (Green Book, 2018) de Peter Farrelly.
Filme que merecia ganhar: Green Book foi uma escolha tão ruim, mas tão convencional e esquecível, que, exceto por Vice (2018), a brincadeira política de Adam Mckay, que podemos colocar no mesmo nível do road movie meloso vencedor, todos os outro seis indicados à melhor filme eram BEM superiores. E sim, tinham muito mais a falar do que o vencedor, que romantiza uma viagem pelo Sul dos EUA e que pode ser resumida numa sucessão de fatos onde um motorista branco salva a pele de um pianista negro. Fala sério! Na lista de perdedores havia o fortíssimo Infiltrado na Klan (The BlackKkKansman) de Spike Lee (roteiro adaptado para ele), a loucura histórica de A Favorita (The Favourite) de Yorgos Lanthimos (Oscar de melhor atriz para Olivia Collman) e o emocionante drama semibiográfico de Alfonso Cuáron (Roma), que venceu as estatuetas de filme estrangeiro, diretor e fotografia. Para finalizar, pode parecer absurdo, mas olha, até a adaptação da HQ Marvel de Pantera Negra e o remake de Nasce uma Estrela (2018) eram escolhas muito melhores que a previsível sessão da tarde que é Green Book.