Os votantes do Oscar adoram indicar aquele tipo de drama clássico, aventura épica, história real ou romance de época. Mas a nossa lista não tem nada disso. Sim, temos Tubarão e O Exorcista como filmes diferentões. A explicação é que na época em que foram lançados, eles não eram nada. Na verdade fomentaram as propostas de produção em grande escala, do suspense do homem X natureza e o terror sobre possessão.
Entre os outros filmes listados, que de alguma forma são fora dos padrões da Academia, há romance transgênero, humor negro, filmes de arte, produções independentes e cult movies. Veja a lista dos 15 diferentões que concorreram ao Oscar de melhor filme:
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971) de Stanley Kubrick
Filme futurista, fala da violência de um ser livre (Alex) em busca de sexo e diversão, sempre a base de leite e drogas. Na trama há estupro, invasão, roubo e lavagem cerebral. Obra-prima do diretor foge completamente dos padrões da Academia, é baseado no polêmico livro de Anthony Burgess. Proibido no Brasil, só estreou em 1978. Concorreu em quatro categorias (filme, diretor, roteiro adaptado e montagem), e perdeu todas.
O Exorcista (The Exorcist, 1973) de William Friedkin
O que dizer de um filme em que uma garotinha gira a cabeça, anda ao contrário, vomita verde e se masturba com um crucifixo? O filme mais clássico sobre a uma possessão do demônio foi uma aposta incomum da Academia na década de 70. Com 10 indicações ao Oscar, venceu nas categorias de roteiro adaptado e som.
Tubarão (Jaws, 1975) de Steven Spielberg
Suspense apresenta um tubarão gigante que ataca banhistas em uma pacata praia americana. Com filas que dobravam os quarteirões nos EUA, o sucesso cunhou a palavra “blockbuster”. Curioso é que produção teve problemas, e teve a dinâmica da história modificada devido a inoperância do tubarão mecânico. Concorreu à quatro Oscar (filme, montagem, trilha sonora e som), e só perdeu o na categoria de melhor filme.
O Beijos da Mulher-Aranha (Kiss of the Spider Woman, 1985) de Hector Babenco
Não, não é um filme de super-herói. Em drama pesado que se passa em uma prisão sul-americana, há tortura, prisioneiro político (Raul Julia), companheiro de cela homossexual (William Hurt) e sonhos molhados com a tal Mulher Aranha (Sônia Braga). Tema estranho para o Oscar, né? Indicado à filme, diretor, roteiro adaptado, venceu a estatueta de melhor ator (Hurt).
A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991) de Gary Trousdale e Kirk Wise
O Oscar de animação só foi criado em 2001, e antes disso, somente a adaptação do conto clássico feito pela Disney teve a honra de ser um dos cinco finalistas de melhor filme. Hoje pode parecer comum, ainda mais com a abertura para até 10 nomeados, mas nos anos 90, a produção marcou época. Foi a primeira animação a concorrer ao principal prêmio da Academia.
Traídos Pelo Desejo (The Crying Game, 1992) de Neil Jordan
O cartaz pedia: não revele o segredo do filme para ninguém. O drama (independente) acompanha um terrorista do IRA, que cumprirá a promessa de cuidar da noiva do seu ex-prisioneiro. A grande surpresa na lista dos nomeados do ano é, no fundo, um romance transgênero. E com direito a nu frontal. Indicado em seis categorias, venceu o Oscar de melhor roteiro original.
Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994) de Quentin Tarantino
Diálogos recheado de cultura pop, banhos de sangue, humor negro, sodomia e história em capítulos recortados de forma não-cronológica. Isso não parece ser filme de Oscar, mas Tarantino subverteu a história com sua obra-prima. Com sete nomeações (incluindo filme e direção), levou a estatueta de roteiro original.
Babe: O Porquinho Atrapalhado (Babe, 1995) de Chris Noonan
Filminho infantil bonitinho e só. Em um ano fraco, a Academia apelou para a história de um “porquinho atrapalhado” na fazenda. Foram sete indicações, incluindo filme, diretor e ator coadjuvante (James Cromwell). Produzido por George Miller (Mad Max), arrecadou mais de U$ 250 milhões e um Oscar de efeitos especiais.
Ou Tudo, Ou Nada (The Full Monty, 1997) de Peter Cattaneo
A novidade do ano foi a comédia inglesa sobre desempregados que decidem se tornam strippers para sobreviver. Estrelado por então desconhecidos, custou U$ 3,5 e rendeu mais de 250 milhões e ainda concorreu em quatro das principais categorias do Oscar (filme, diretor, roteiro original e trilha sonora-comédia), vencendo a última.
O Tigre e o Dragão (Wo hu cang long/Crouching Tiger, Hidden Dragon, 2000) de Ang Lee
Você acha que uma aventura de kung-fu falada em cantonês faria tanto sucesso? Na trama lutas fantasiosas, uma busca pela espada histórica, uma paixão reprimida e a busca por justiça. Produção conseguiu 10 indicações, emplacando filme e filme estrangeiro, venceu o último e mais outras três estatuetas (fotografia, trilha sonora, direção de arte & cenários).
Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003) de Sofia Coppola
Um encontro inesperado entre duas almas perdidas (e entediadas) no Japão – um ator americano de meia idade e a esposa de um fotógrafo egoísta – não tem exatamente cara de Oscar. Adicione música indie, cultura nipônica, karaokê, comercial de uísque e insônia, e temos um cult movie
Babel (Babel, 2006) de Alejandro González Iñarritu
Histórias entrelaçadas por medo, violência, terrorismo, drama e paixão viaja pelo Marrocos, México, Japão e Japão. No elenco Brad Pitt e Cate Blanchett, as nomeadas foram as desconhecidas Adriana Barraza e Rinko Kinkuchi. Estranho, não é? Tinha sete chances de vencer o prêmio e ganhou somente a estatueta por sua trilha sonora.
Distrito 9 (District 9, 2009) de Neill Blomkamp
Do gênero (ficção-científica), da forma como foi filmada (entre o noticiário e o documentário), zero estrelas e vindo da África do Sul, é bem diferente do estilo da Academia. Filme que versa sobre o preconceito racial, substituindo negros e brancos, por humanos e alienígenas, a produção muito bem sacada concorreu ao Oscar de filme, roteiro original, montagem e efeitos especiais. Mas o saldo final foi de zero prêmios.
A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) de Terrence Mallick
Tachado de viagem e apresentação de powerponit dos canais History e National Geographic, a produção é na verdade uma obra poética. Digna da prateleira de filmes de arte mesmo. Nomes de peso (Brad Pitt e Sean Penn) no elenco, assim como o seu diretor, recluso e cultuado, chamam a atenção necessária para o belo drama familiar. Concorreu aos prêmios de filme, diretor e fotografia, mas ficou por isso mesmo.
Ela (Her, 2013) de Spike Jonze
O que dizer de uma história de amor improvável entre um homem solitário e seu programa de computador? Filme síntese do modelo cult bacaninha de ser, é um romance irretocável, por mais absurdo que seja a sua história. Cinco indicações na conta (filme, trilha sonora, canção, desenho de produção e roteiro), venceu a categoria mais “viável” para filmes criativos: melhor roteiro original
O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014) de Wes Anderson
Cinesta cult assina mais uma pintura em movimento. Entre o sorriso no rosto, fotografia de Instagram e um elenco numeroso, é contada a história de dois amigos que trabalham no hotel do título. Das nove indicações, levou quatro (figurino, design de produção, trilha sonora e cabelos/maquiagem).
Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014) de Richard Linklater
Filmado em 12 anos com os mesmos atores, o drama acompanha o crescimento de um garoto de uma família de pais separados. Com quase três horas de duração o clima naturalista combina mais com os filmes de arte que no Oscar. Seis vezes nomeado, levou apenas o prêmio de atriz coadjuvante (Patricia Arquette).