O Oscar 2018 completa os 90 anos da premiação hollywoodiana, e pare celebrar a data, comparamos a lista de vencedores e perdedores para chegar à uma lista polêmica. Que fique bem claro, a lista que você lerá abaixo não traz exatamente os piores filmes do Oscar. Mas, em termos comparativos diretos, entre vencedores do Oscar de melhor filme e quem deixou de ganhar a estatueta, o tempo tratou de mostrar quem realmente são os melhores de cada ano. Até gosto de muitos dos vencedores listados, mas alguns dos filmes perdedores são bem melhores, em qualidade, realização e importância ao cinema.
Espero que se divirta com a lista:
1941 – Filme que ganhou: Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valley, 1941) de John Ford.
Drama familiar otimista sobre uma família que trabalhava nas minas de carvão do País de Gales na virada do século. Funcionou como o elixir da bondade para a Academia em plena erupção da 2ª Guerra Mundial. Cinco Oscar: melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Donald Crisp), fotografia (P&B) e direção de arte & cenários (P&B).
Filme que deveria ganhar: Cidadão Kane (Citzen Kane, 1941) de Orson Welles.
Cidadão Kane é somente um dos melhores filmes de todos os tempos. Ao contar a polêmica história de um magnata da comunicação que é corrompido pelo poder, Orson Welles revolucionou a sétima arte. A obra-prima venceu o Oscar de melhor roteiro original. E para completar o ano desastroso da Academia, entre os perdedores havia também um clássico do noir, Relíquia Macabra – O Falcão Maltês (1941) de John Huston.
1956 – Filme que ganhou: A Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in Eighty Days, 1956) de Michael Anderson.
A superprodução hollywoodiana que adapta o livro de Julio Verne ficou marcada por problemas de produção, diretores não creditados e participações especiais. A aventura sobre uma aposta milionária é uma sessão da tarde e só. Cinco Oscar: melhor filme, roteiro adaptado, montagem, fotografia (cor) e trilha sonora.
Filme que deveria ganhar: Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956) de George Stevens.
Drama épico espetacular. É uma vigorosa crônica sobre como uma nação é construída. Na trama, o embate e a ascensão social de um trabalhador americano, e a busca paralela pelo poder vs. felicidade/amor. Oscar de melhor direção para George Stevens e nove derrotas em outras categorias, incluindo a póstuma de ator coadjuvante para James Dean. Entre os derrotados havia outro épico melhor que o vencedor, Os Dez Mandamentos (1956) de Cecil B. DeMille.
1980 – Filme que ganhou: Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980) de Robert Redford.
Apesar do tema pesado, a estreia na direção de Redford foi recebida com muita alegria pela Academia. No cardápio, melodrama familiar, suicídio e depressão, temperado com interpretações espetaculares. Poderia ter ficado em algumas estatuetas de interpretação, mas levou quatro prêmios: melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Timothy Hutton) e roteiro adaptado.
Filme que deveria ganhar: Touro Indomável (Raging Bull, 1980) de Martin Scorsese.
Essa eu li em “Como a Geração Sexo-drogas-e-rock’n’roll Salvou Hollywood” (Peter Biskind). Muitos produtores não queriam produzir um filme tão forte sobre boxe, pois recentemente Rocky (1976) já havia ganho o Oscar. Portanto a Academia não premiaria o mesmo tema tão cedo. Dito e feito. A loucura do boxeador Jake LaMotta é um primor de técnica e emoção na mãos de Scorsese. DeNiro engordou para brilhar (ganhou o Oscar de melhor ator), a montagem perfeita (venceu a estatueta) e a fotografia P&B completavam o pacote cinco estrelas. Mas a cereja do bolo (melhor filme) não veio.
1982 – Filme que ganhou: Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981) de Hugh Hudson.
Filme que deveria ganhar: Reds (1981), a escolha mais política, social e até artística, ou até Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark), no qual Spielberg apresentou Indiana Jones ao mundo com uma aventura que entrou para a história. O vencedor até hoje é visto como uma das maiores zebras da história da Academia.
1990 – Filme que ganhou: Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989) de Bruce Beresford.
Filme que deveria ganhar: o tocante Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poet Society), que venceu o Oscar de roteiro original. Até mesmo Nascido em 4 de Julho (Born in 4th of July) é um filme mais forte, mas particurlamente para mim, um filme que me toca muito mais que o vencedor, é Campo dos Sonhos (Field of Drems).
1999 – Filme que ganhou: Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998) de John Madden.
Filme que deveria ganhar: o clássico sangrento, O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan), que traduz os horrores do desembarque da Normandia, e em seguida investe em uma missão de resgate em plena 2ª Guerra Mundial. Ou até mesmo o pacifista Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line). Os dois, bem melhores que o bonitinho, mas só isso mesmo, vencedor. Só lembrando que o épico bio-histórico Elizabeth (1998) também estava entre os nomeados à melhor filme.
2003 – Filme que ganhou: Chicago (2002) de Rob Marshall.
Filme que deveria ganhar: a história real de guerra contada em O Pianista (The Pianist), um belíssimo drama sobre o holocausto. Por ele, Roman Polanski venceu o prêmio de melhor direção. E o vencedor? É apenas um musical divertido, mas MUITO longe de ser o melhor filme do ano.
2006 – Filme que ganhou: Crash – No Limite (Crash) de Paul Haggis.
Filme que deveria ganhar: O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain) de Ang Lee ou até mesmo Munique (2005) de Steven Spielberg. O primeiro deu ao seu diretor o Oscar, em um filme que quebra paradigmas (um romance proibido entre dois cowboys), e está marcardo como uma das grandes injustiças da premiação. O filme de Spielberg também é muito mais cinema que o vencedor, apesar de seu planfeto anti-racista bem executado.
2011 – Filme que ganhou: O Discurso do Rei (The King´s Speech, 2010) de Tom Hooper.
Filme que deveria ganhar: A Rede Social (The Social Network) dizia muito mais sobre o nosso tempo que a história real de um rei gago. A obra de David Fincher perdeu junto à grandes filmes, esnobados também. Bravura Indômita (True Grit), o remake dos Irmãos Coen, por exemplo não levou nenhum esttaueta para casa. O inventivo A Origem (Inception) se contentou com prêmios técnicos e perdeu até a categoria de roteiro original. E para fechar a lista, temos os superiores Toy Story 3, a animação mais emocionante da história, e Cisne Negro, ambos bem melhores que o drama vencedor.
2014 – Filme que ganhou: 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013) de Steve McQueen.
Filme que deveria ganhar: o inovador Gravidade (Gravity), ou Ela (Her). Para o primeiro, todos os prêmios técnicos, e um Oscar ao seu diretor, Alfonso Cuarón. Ao segundo, a estatueta de melhor roteiro original. Justo, mas ambos poderiam ter saído com o principal prêmio do ano, facilmente. E olha que ainda tinha O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street) na lista dos indicados. Ganhou a aula de história, por vezes didático, por vezes duro e forte, mas no geral passa por média, sem atingir o topo entre os melhores do ano.