Quando um violonista, que se torna professor por necessidade, tem o seu primeiro encontro com a sua “sala” (no meio de uma quadra) cheia de alunos dispersos, o choque é grande. Mas o que não imaginaria é que mais do que mudar a vida dos jovens em situação de risco, ele passa a ver a sua própria vida de uma forma diferente.
Esse é o mote de “Tudo que Aprendemos Juntos” (Idem/The Violin Teacher, 2015), o novo filme de Sérgio Machado. E como se percebe, seu título é bem fiel a sua história, baseada em fatos reais, sobre a criação da Orquestra Sinfônica Heliópolis.
Laerte (Lázaro Ramos) é um músico promissor que sofre uma crise em plena audição para uma vaga na Osesp. Ele perde a chance de trabalhar na maior orquestra sinfônica da América Latina e, frustrado, vai dar aulas na favela de Heliópolis. Na escola, cercado por pobreza e violência, redescobre a música de forma tão apaixonada que acaba por contagiar os jovens estudantes.
A produção teve um ano de preparação musical com os alunos/atores da comunidade e quatro meses de preparação do elenco para um resultado louvável.
O que se vê na tela vai muito além do jogo de cena e falas do roteiro. São histórias reais pinçadas com sequências essenciais para a boa dramatização do filme. Entre as mais fortes estão, a da lavagem de roupa suja na sala, quando uma garota grita como foi abandonada no lixo, a manifestação da comunidade versus a polícia, um pedido de ajuda selado com um abraço entre professor e aluno, o confronto entre criminosos locais com uma arma apontada enquanto o protagonista toca seu violino, e é claro, a lacrimosa apresentação/homenagem final ao colega da orquestra.
Em meio aos atores preparados para o filme, Lázaro Ramos (dublado na parte musical do filme) fica no meio do caminho. Após falhar pifiamente ao entrar em pânico em um teste que poderia definir a sua vida, o que se vê é um professor por acidente em meio a realidades muito mais difíceis que a sua. Falhar é o de menos onde viver pode ser mais importante. O professor acaba sendo aluno da vida dos seus alunos. Por isso, seu personagem se mostra desconexo e poderia inserir mais emoção enquanto é modificado pela vida na trama.
Destaque para o jovem Kaike Jesus, na pele de Samuel, um prodígio perdido no meio da multidão e das dificuldades da vida. O rapper Criolo tem uma participação interessante, e que não compromete, como o chefe do tráfico que faz um pedido inusitado para a festa de 15 anos de sua filha.
Diretor e roteirista, Sérgio Machado (Cidade Baixa, 2005) consegue ser honesto com a realidade retratada, ao passar por questões sociais expostas em carne viva. E de linguagem universal, seu drama sobre a superação funciona, e também deve deixar a comunidade retratada orgulhosa com suas conquistas.